Este artigo visa perpassar a trajetória de Luiz Roberto Salinas Fortes, realizando um recorte sob a seguinte perspectiva: retomando seus estudos sobre Rousseau, examinaremos como sua formação filosófica serviu como ferramenta para que, nos últimos anos de sua vida, pudesseconstituir uma escrita crítica e de intervenção, cuja questão central gira em torna da noção de democracia. Neste sentido, na década de 1980 é organizada uma coletânea intitulada “A Constituinte em Debate”, obra na qual escreve um texto fundamental para pensarmos e compreendermos os impasses que circundavam o período de formação da Constituinte. Neste artigo, Salinas Fortes se preocupa com questões que poderiam afastar o processo de suas finalidades democratizantes. Em poucas palavras, a questão era como realizar uma democracia efetiva noBrasil, tendo em vista os arrepios que o conceito de “democracia direta” causava entre aqueles que Salinas Fortes apelida de “liberais”. Prescindindo de um debate público mais extenso e de um envolvimento mais direto da população na formação das normas constitucionais, termos como “soberania”, “igualdade”, “poder do povo”, e, sobretudo, as questões relacionadas aos usos do conceito de “democracia representativa”, corriam, então, o risco de serem corriqueiramenteutilizados ideologicamente, de forma a encobrir os reais problemas que se colocavam nesta fase de transição. Segundo Salinas Fortes, falhar em relação a este debate público seria adentrarmos em um “arremedo de democracia”: eis, então, que entra em cena o papel crucial do escritor político e do intelectual público. É neste contexto que surge uma privilegiada questão, ainda hoje a ser respondida: como realizar, no Brasil, um projeto de cidadania plena?
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