RESUMO Introdução: O elitismo no ensino da medicina é um fenômeno histórico. Desde as universidades europeias da Idade Média, o ensino da medicina tornou-se um monopólio da elite. No Brasil, a elitização do conhecimento médico ocorreu com a vinda da família real em 1808, reforçando o papel dos médicos como protagonistas da saúde, enquanto práticas curativas populares foram desvalorizadas. Nos Estados Unidos, Abraham Flexner influenciou o ensino médico mundial com um modelo elitizado baseado na lógica biomédica. Objetivo: Este estudo teve como objetivos compreender os fatores que reproduzem o contexto elitista no ensino da medicina, investigar como esses aspectos influenciam a exclusão de determinados grupos sociais no meio médico e apontar caminhos para a discussão e o enfrentamento do problema. Método: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura realizada a partir de 14 artigos selecionados entre 182, publicados no período de 2012 a 2022 e filtrados das bases de dados PubMed, SciELO, Lilacs, Web of Science e Scopus. Resultado: Percebem-se semelhanças entre o grupo privilegiado na medicina, formado por homens, brancos, heterossexuais e cisgênero, de condição socioeconômica favorável, em comparação ao grupo sistematicamente marginalizado de mulheres pertencentes a minorias étnico-raciais, de baixa classe socioeconômica e/ou parte da população LGBTQIA+. Essa coincidência tem bases históricas e econômicas que refletem uma estrutura maior, que distribui privilégios partindo dos critérios de raça, gênero, classe social e orientação sexual. Entre os processos históricos que reproduzem esse padrão, cita-se o processo de colonização de países como o Brasil, marcado pela exploração, pelo apagamento e pela imposição de uma cultura e ciência médica balizada por um padrão europeu; o racismo e machismo que, como ideologias, continuam sendo critérios para a distribuição de privilégios na sociedade de classes; e a heterocisnormatividade, que também atua excluindo corpos e orientações sexuais e produção de conhecimentos e práticas de cuidado em saúde. Conclusão: Epistemologias críticas como as presentes no pensamento interseccional do feminismo negro e na colonialidade do poder de Aníbal Quijano e Audre Lorde apresentam-se como caminhos à ruptura dessa norma, propiciando o questionamento de suas raízes para a organização de lutas coletivas e formas de produção de conhecimento que venham ao encontro dos interesses dos grupos historicamente oprimidos.
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