Abstract
A produção de conhecimento não é uma linha reta que segue em direção a um inconteste progresso. Ao contrário disso, tal produção sofre contínuas perturbações, no entrelaçamento de saberes, práticas, maneiras de pensar. Certo é que tais questões trouxeram interferência na própria noção de pesquisa científica, sendo que a realidade, vista como sendo um quebra-cabeça a ser decifrado – um código a ser desvendado por meio de ferramentas teórico-metodológicas cada vez mais apuradas – foi assumida como possuindo uma essência imutável a servir de modelo a partir da qual se organizavam todas as variações possíveis. Compreender esse núcleo fundante, essa verdade, ponto da gênese do cosmos, das grandes narrativas e de tudo que o difere, se tornou um projeto, seguramente ambicioso, da ciência moderna em seus desdobramentos em diferentes áreas de conhecimento. Porém, seria possível fazer da dúvida metódica cartesiana um instrumento de questionamento das verdades que a própria modernidade acolheu para si: verdades instaladas em grandes narrativas a definir posições de gênero, de universo, de educação, de conduta, de futuro, de ordem, de felicidade, de humanidade? Seria possível estranhar inclusive a própria noção de “essência”, de “verdade” e de “realidade”? Seria possível novamente utilizar a ferramenta da dúvida para produzir estranhamento no que já está estabelecido como inconteste e colocar movimento problematizador naquilo assumido como inquestionável? A partir desses desassossegos, os artigos reunidos neste dossiê têm por proposta – cada um em seu campo de problematização – trazer um pensar que estranhe, colocando movimento em perspectivas consideradas estáveis em sua naturalidade, driblando a “verdade” e acolhendo as interferências produzidas (tanto na realidade, quanto no próprio pesquisador) pelo processo de conhecer.
Highlights
Diante da fragmentação das certezas medievais, quando crenças e valores – que até então pareciam constitui um estável “para sempre” – foram repentinamente substituídas por um horizonte incerto, provocativo, estimulante e igualmente perigoso, o “estranho” funcionou tanto como objeto de encanto quanto de angústia, gerido pelo primado da razão
Researching is to strange reality: subjectivation process and everyday life
Eduardo Simonini[1] Roberta Carvalho Romagnoli[2]
Summary
Diante da fragmentação das certezas medievais, quando crenças e valores – que até então pareciam constitui um estável “para sempre” – foram repentinamente substituídas por um horizonte incerto, provocativo, estimulante e igualmente perigoso, o “estranho” funcionou tanto como objeto de encanto quanto de angústia, gerido pelo primado da razão.
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