O presente trabalho visa elucidar considerações sobre a violência, bem como salientar sua importância na obra Assim na terra como embaixo da terra (2017), de Ana Paula Maia como mecanismo estético e estrutural do texto. A obra explora a violência por diferentes vertentes, uma delas é o vínculo entre violência e poder. O enredo nos mostra a rotina de um presídio de segurança máxima totalmente isolado, cercado pela seca, vegetação escassa e solo áspero. Além do ambiente inóspito, os prisioneiros enviados a esse presídio se deparam com um diretor extremamente autoritário, violento e sádico, Melquíades, um homem perturbado que busca poder por meio de ações violentas, ameaças e pressão psicológica sob seus ordenados e os detentos, ilustrando o conceito de violência subjetiva. Entre os detentos, um se destaca, Bronco Gil, um índio mestiço, com olho de vidro e assassino por encomenda, que fora condenado apenas por um crime, o assassinato de um prefeito. Bronco se torna o principal alvo de Melquíades, tanto por sua postura fria e indiferente ante à autoridade do diretor, quanto por seu histórico criminal. No decorrer da trama, episódios aterradores, como a caçada humana criada pelo diretor da colônia penal nos evidenciam os reflexos da violência sobre a mente dos detentos. Melquíades expõe a perda da racionalidade e o aflorar da bestialidade em si, devido ao fascínio desenvolvido pela violência. No entanto, a brutalidade do diretor não é a única representação de violência presente na obra, outras manifestações são abordadas por vieses que a superam, como os impactos na relação de poder e respeito entre agentes penitenciários e detentos. A compreensão do significado e significância da violência na obra de Ana Paula Maia, partir-se-á das contribuições teóricas e críticas de Hannah Arendt (2011) Slavoj Zizek (2014), Ronaldo Lima Lins (1990) e Xavier Crettiez (2011). Para além, na compreensão do texto literário de Maia, nos aportaremos em questões de ordem estrutural da narrativa.