Este artigo visa a contribuir para a reflexão a respeito da classificação dos tipos de verbo, em especial, os de estado, a partir da análise da emergência do imperfectivo contínuo na aquisição do português do Brasil (PB). A análise da emergência das morfologias progressiva e não progressiva na expressão desse aspecto associadas aos diferentes tipos de verbo possibilitaria investigar se a morfologia progressiva não é associada apenas aos verbos de estado (SHIRAI e ANDERSEN, 1995). Contrariando essa previsão, a hipótese deste estudo é a de que, na expressão do imperfectivo contínuo, a emergência da morfologia progressiva ocorre após a emergência da morfologia não progressiva com todos os tipos de verbo: atividade, estado, processo culminado e culminação. Para tanto, foi realizado um estudo longitudinal com dados de fala espontânea de uma criança em processo de aquisição do PB com idade entre 2;3 e 2;8. Foram analisadas as produções verbais relativas à expressão do aspecto imperfectivo contínuo por meio das morfologias progressiva e não progressiva em todos os tipos de verbo. Verificou-se que a expressão desse aspecto por meio da morfologia não progressiva aconteceu antes da sua expressão mediante a morfologia progressiva apenas nos verbos de estado e que sua expressão ocorreu primeiramente pela morfologia progressiva com verbos de atividade. Logo, a hipótese foi refutada. Pela análise dos resultados, discutiu-se que os verbos tipicamente classificados como de estado nem sempre o são, já que a associação desse tipo de verbo com uma morfologia progressiva confere um caráter dinâmico ao verbo.