Abstract

Neste breve percurso investigativo, a proposta que aqui desenho se curva às experiências rítmicas e estéticas das músicas e performances do samba de roda Voa Voa Maria, de Matarandiba. Por esse prisma, em primeira instância, tomarei algumas chaves analíticas, sendo que, dentre elas, destaco a concepção de tempo espiralar desenvolvida pela professora Leda Maria Martins (2021), numa perspectiva cósmico-filosófica da ancestralidade africana. Através do samba e seu território, a comunidade indica que suas enunciações poéticas conseguem fissurar a linearidade temporal hierarquizante do Chronos ocidentalizado, já que as vivências estéticas, através dessas vozes, corpos e tambores, estão em funcionamento de um tempo não linear, mas sim curvilíneo. Destarte, a tríade: corpo-tempo-movimento atua como prenuncio da potência literária presente no samba da localidade. No primeiro momento do texto, aporto em Itaparica, nas beiradas da maré matarandibense, e faço uma mostra desse cenário que inscreve o protagonismo e pertencimento local. Nessa perspectiva, as riquezas naturais gravitam como elementos vivos dessa poética contracosteira da ilha de Itaparica. Minha âncora será fincada em pensadoras e pensadores que permitam a percepção dos saberes imbricados na indagação proposta. Trago Krenak (2020), dialogando sobre a importância da Terra como ser ativo, bem como seus entrelaces com as humanidades, a fim de pensar a paisagem e o processo de ressignificação que é feito pela comunidade, capaz de subverter a ideia de subalternidade que permeia os cenários da contracosta. Martins (2020, 2021), Oyěwùmí, (2021), Sodré (1998, 2020), Zumthor (2000) os quais ajudarão a modular a relação corpo-tempo-movimento em face às possíveis simultaneidades que reativam e reinstauram esses corpos subalternizados como “tapeçaria de sentidos discursivos” (MARTINS, 2021, p.21). Freitas (2016) nos permitirá fazer um exercício crítico literário operando o conceito de literatura-terreiro que, segundo o autor, “é aquela que, dentro da cosmogonia africana e/ou afro-brasileira explora a multimodalidade” (FREITAS, 2016, p.59). Com ele, será possível aferir acepções críticas nodais apontando o vigor do samba Voa Voa Maria como literatura.

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