Abstract

A tradução do verso branco épico usualmente toma duas formas: fidelidade formal à contagem silábica como recriação do pentâmetro em decassílabos ou fidelidade semântica como transposição adaptativa em versos livres. Ambos os modos causam detrimento aos efeitos particulares da forma original por não transporem à língua de chegada as qualidades essenciais do verso branco inglês: o ritmo cadenciado e constante e a tensão entre o ritmo métrico e o ritmo sintático-semântico. Em nosso artigo, buscamos estudar as qualidades e efeitos que tornam o verso branco épico distinto de outras formas métricas, explorando os mecanismos do pentâmetro iâmbico, seus limites e mutações dentro da tradição inglesa, e como esse verso opera em composições não-rimadas de caráter narrativo e meditativo, nas quais as diferenças entre prosa e poesia tornam-se mais tênues e a métrica toma um caráter ao mesmo tempo menos marcado e mais fundamental. Após esse levantamento, propomos uma nova variação do verso branco em português, o dodecassílabo misto, composto de ritmo iâmbico, formado pela alternância de sílabas átonas e tônicas ou subtônicas, e dodecasílabos acéfalos quando o verso precedente é grave. Ilustramos nosso estudo do verso branco com passagens de The Prelude, de William Wordsworth, e traduzimos trechos da mesma obra segundo nossa medida métrica para determinar sua eficácia. Como resultado, notamos que nossa forma adaptada mostra-se capaz de acomodar aquelas qualidades consideradas essenciais ao verso branco, reformulando, em português, efeitos poéticos frequentemente perdidos no processo de versão de obras inglesas, como o ritmo regular binário e o momento de leitura vertido de um verso a outro de modo integrado. Concluímos, dessa maneira, que uma abordagem não-tradicional das potencialidades métricas da língua portuguesa, em diálogo com os moldes da poesia inglesa, é capaz de abrir novas perspectivas tradutórias para pesquisadores em língua portuguesa e trazer a lume qualidades de tradições métricas distintas que podem oferecer novas ferramentas a seus tradutores.

Highlights

  • 11 narrativo e meditativo, nas quais as diferenças entre prosa e poesia tornam-se mais tênues e a métrica toma um caráter ao mesmo tempo menos marcado e mais fundamental

  • We concluded that a nontraditional approach toward the metrical potentialities of Portuguese, in dialogue with the forms of English poetry, is capable of opening new perspectives of translation for Portuguese language researchers, and bringing to light qualities of different metrical traditions that can offer new tools to their translators

  • 26 “Trances of thought and mountings of the mind / Come fast upon me: it is shaken off, / That burthen of my own unnatural self,” (WORDSWORTH, 1994, I, v. 19-21)

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Summary

ADAPTATION OF THE ENGLISH EPIC BLANK VERSE INTO PORTUGUESE

Resumo: A tradução do verso branco épico usualmente toma duas formas: fidelidade formal à contagem silábica como recriação do pentâmetro em decassílabos ou fidelidade semântica como transposição adaptativa em versos livres. Buscamos estudar as qualidades e efeitos que tornam o verso branco épico distinto de outras formas métricas, explorando os mecanismos do pentâmetro iâmbico, seus limites e mutações dentro da tradição inglesa, e como esse verso opera em composições não-rimadas de caráter. Notamos que nossa forma adaptada mostra-se capaz de acomodar aquelas qualidades consideradas essenciais ao verso branco, reformulando, em português, efeitos poéticos frequentemente perdidos no processo de versão de obras inglesas, como o ritmo regular binário e o momento de leitura vertido de um verso a outro de modo integrado.

Why think of any thing but present good?
Trances of thought and mountings of the mind
Upon the river point me out my course?
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