Abstract

A realização de performances em português de música coral estrangeira era prática bem estabelecida na cidade de São Paulo do início do século XX à década de 1960. Entretanto, as traduções caíram em progressivo desuso ainda na segunda metade do século XX, constituindo atualmente um repertório pouco discutido pelos estudos de performance e práticas interpretativas no Brasil. Nesse contexto, este artigo faz uma discussão crítica a respeito da presença de traduções para o português de obras corais nas práticas musicais brasileiras do século XX, a partir de performances em português da Johannespassion BWV 245, de Johann Sebastian Bach, feitas por Furio Franceschini e Martin Braunwieser em São Paulo entre as décadas de 1940 e 1960. Referenciada na história da performance musical enquanto campo, nossa discussão é fundamentada em um conjunto de fontes documentais relacionadas aos concertos e em bibliografia composta por Mahraun (2016), Stauffer (1997), Goehr (1992) e Doyle (1980). Tanto a investigação bibliográfica quanto a investigação documental mostram que o uso de traduções foi uma escolha interpretativa diretamente relacionada à concepção de obra dos próprios maestros, como também a tradições de performance desse repertório provenientes da Europa e das conjunturas culturais e políticas de âmbito local. Em última análise, este artigo evidencia a presença desse repertório em São Paulo, sua importância histórica, seu valor artístico e suas aplicações práticas, a despeito de um contexto de crescente autoridade da obra musical sobre as práticas musicais dos séculos XX e XXI.

Full Text
Published version (Free)

Talk to us

Join us for a 30 min session where you can share your feedback and ask us any queries you have

Schedule a call