Abstract

IV SEMINÁRIO DE POESIA E CRÍTICA:Do texto poético, do discurso crítico e do diálogo com o mundo
 APRESENTAÇÃO
 A Revista Travessias Interativas contempla, neste número especial, os trabalhos apresentados no IV Seminário de Poesia e Crítica: Do texto poético, do discurso crítico e do diálogo com o mundo, realizado de maneira totalmente remota, entre os dias 16 e 18 de novembro de 2022. Nesta edição do Seminário, que vem sendo realizado anualmente desde 2017, afiançado pelo Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal de Sergipe, foram apresentadas comunicações de alunos de graduação e de pós-graduação, além de docentes de diferentes Instituições. O propósito do evento é, portanto, o de divulgar pesquisas acerca do texto poético, em suas mais variadas abordagens e possibilidades hermenêuticas.
 Os artigos aqui apresentados formam um conjunto de propostas que refletem sobre a poesia e crítica em seu enlace com a modernidade, pondo em questão a própria noção de poesia moderna, evidenciando, assim, práticas intertextuais e comparatistas sobre o fenômeno poético – o que permite, sem dúvida, ir além do poema e além do Brasil.
 Os dois primeiros textos que abrem este volume são oriundos das conferências de abertura e encerramento do Seminário, proferidas respectivamente pelo pesquisador e professor Antônio Donizeti Pires, da UNESP/Araraquara, e pelo poeta e editor Alexei Bueno. Aqui, os autores exploram os caminhos de uma modernidade literária que constantemente se alimenta de um fundamento de “crise”, viabilizando, assim, estabelecer aproximações e tensões no horizonte da crítica.
 No ensaio de abertura desta edição, intitulado Poesia moderna e poesia modernista: equívocos críticos (ensaio), Alexei Bueno destaca no Simbolismo brasileiro, sobretudo nas poesias de Cruz e Sousa e Augusto dos Anjos, as raízes de nossa poesia moderna, que se emparceira mais de uma tendência expressionista do que propriamente com os ideais do movimento modernista. Nos arrabaldes de um cânone mais clássico, a poesia moderna brasileira – de onde certamente avulta um Cesário Verde, em Portugal – passa a considerar, nas palavras do autor, uma grande “invasão da realidade em seu sentido mais concreto”. Em seguida, no artigo A crítica de poesia hoje e seus dilemas diversos, Antônio Donizeti Pires faz um exame das diversas crises pressentidas na modernidade e que decerto formam um topos. Este é o fio condutor que perpassa os três movimentos propostos, que reúnem um variado e atualizado repertório de críticos e poetas críticos afinados com a problemática da crise. Assim, o intuito do autor é demonstrar como a noção de crise é fundamentalmente histórica, pois cada século a vivencia de diferentes modos, o que cabe à crítica considerar e estar atenta ao sentido epocal deste topos da modernidade.
 Em Metarromantismo em verso e prosa nos Ensaios literários (1847-1850), Natália Gonçalves de Souza Santos adota a perspectiva da metaliteratura como ponto de partida para uma hermenêutica de textos literários que circularam no contexto das associações estudantis durante o século dezenove no Brasil. Ao percorrer as páginas do periódico Ensaios literários, afiançado na Faculdade de Direito de São Paulo e que publicou diversos poemas e textos em prosa (ficcionais ou não), a autora procura demonstrar, portanto, os sentidos metapoéticos e estéticos do corpus selecionado, que podem viabilizar novas leituras da literatura oitocentista brasileira.
 Se no campo da narrativa o conceito de testemunho já se encontra estabilizado, seria viável interpretar a lírica como um arquivo da memória? Para isso, um caminho incontornável é certamente o da articulação entre o ético e o estético. Em A pandemia de Covid-19 e a poesia brasileira: reflexões a partir de poemas de Raquel Reis e João Antônio Cavalcanti, Leandro Noronha da Fonseca averigua a representação do novo coronavírus (Covid-19) na poesia brasileira do século vinte e um, evidenciando como o texto poético, vocacionado pela incerteza, acaba por equacionar ética e estética diante da matéria pandêmica. Na sequência, agora deslocando o olhar do presente para o passado, Cássio Augusto Nascimento Farias se dedica, em A intertextualidade homoerótica em Paulo Azevedo Chaves, à escuta daquilo que chama de “vozes insurgentes”. Ao utilizar a intertextualidade como ferramenta metodológica, o autor recupera personagens do passado para demonstrar como a poesia de Paulo Chaves pode ressignificar o tema da homossexualidade na criação literária contemporânea, ao mesmo tempo em que coloca em questão o próprio cânone.
 Nos dois artigos seguintes, o tema da mística é centralizado, resultando em práticas interdisciplinares que põem a poesia em diálogo com os pensamentos filosófico e teológico. Em O misticismo da poética muriliana em Poesia Liberdade (1947), Débora Mendes dos Santos Alves refaz o caminho onde mística e poesia se confluem para evidenciar a relação no modernismo brasileiro, sobretudo naquilo que a historiografia literária classificou como segunda fase, a partir da leitura da poesia de Murilo Mendes, voz incontornável deste período. Já no artigo Poesia mística no modernismo brasileiro: a poesia mística de Jorge de Lima, Emily Tavares Nascimento intersecciona a poesia com fundamentos metafísicos para desvelar o diálogo que a lírica limiana estabelece com o divino, sem desconsiderar o trânsito com os horizontes mítico e surrealista pelos quais a sua poesia perpassa.
 Já no texto Um espelho em frente ao outro: apontamentos sobre a especularidade em 3x4, de Armando Freitas Filho, de César de Oliveira Santos, a relação entre a poesia e a filosofia volta a ser questão central da investigação, agora dedicada às imagens especulares despontadas por lagos e espelhos. Aqui, o autor faz referência ao clássico mito de Narciso não para se dedicar ao binômio sujeito-reflexo, mas para procurar depreender, junto com a poesia do carioca Armando Freitas Filho, a relação (inaugural) do sujeito poético com o mundo, mesmo que, para isso, seja necessário sondar o próprio Ser.
 Os dois últimos artigos que encerram este número especial apontam para uma instância errática, propondo uma viagem para além do poema e para além do Brasil, mas sem deles os esquecer ou deles se desligar. O primeiro destino para o qual o leitor é conduzido é decerto a Grécia. Em Paródia em Nikos Kazantzákis: o Cristo Recrucificado, João Victor Rodrigues Santos recorre a pressupostos da literatura comparada não apenas para evidenciar os traços paródicos da obra de Kazantzákis, mas também para argumentar que a reescrita, no autor estudado, tem uma função consciente de atualização do discurso religioso. Neste sentido, as aproximações pontuais com o pensamento de Nietzsche têm aqui a função de estruturar os argumentos e as perspectivas expostos. Por fim, chegamos a Portugal como último destino. Em Espólio de um poeta: Casais Monteiro e o Brasil, Rodrigo Michell Araujo propõe uma leitura de algumas correspondências trocadas com o poeta e crítico de poesia Adolfo Casais Monteiro, sobretudo as enviadas por Bandeira e Drummond, com o intuito de argumentar uma mútua valorização da sinceridade como expressão poética, sugerindo, assim, novos caminhos interpretativos para as relações literárias dos dois países.
 Os dez textos aqui reunidos apresentam variadas perspectivas críticas para a poesia e para além dela, como também viabilizam novas estratégias de leitura, cumprindo, deste modo, o objetivo do Seminário, que é o de divulgar pesquisas sobre a poesia e a crítica de poesia, sem deixar de considerar sua capacidade de diálogo, consigo mesma, com o Outro, com o mundo, além de outros saberes. Agradecemos, assim, aos autores que participaram desta edição do evento, bem como ao Programa de Pós-graduação em Letras (PPGL) e Programa de Pós-graduação Profissional em Letras (PROFLETRAS) da Universidade Federal de Sergipe.
 Rodrigo Michell Araujo

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