Abstract

Para Kierkegaard, sob o pseudônimo de Vigilius Haufniensis (1844), a Psicologia seria, por excelência, a “ciência” a enfrentar a questão da angústia, como abertura para a possibilidade, no movimento existencial e ambíguo da existência mesma. Em contraposição à Ética, que age e julga de acordo com a Lei, e à Dogmática, que determina e impõe, a Psicologia sonda, observa e contempla, aproximando-se da experiência sem tentar buscar explicações nem alicerces onde assentar suas bases. Diversamente da psicologia científica tradicional, afeta ao campo técnico-disciplinar; trata-se de uma “psicologia experimentante”, tal como já indicado por autores que buscam fazer essa articulação entre a filosofia de Kierkegaard e a psicologia (tais como Protasio, Feijoo, Campos, dentre outros). Essa aproximação pela experiência concreta se mostra especialmente necessária no momento histórico atual de reificação das vertentes biomédicas, organicistas e globalizantes das ciências psi que, no campo disciplinar específico da psicologia, convencionou-se chamar de Psicologia baseada em evidências (PBE). Em contraposição ao “evidente” que se “vê de fora”, “prova” etc., determinante das disciplinas científicas modernas, a psicologia inspirada em Kierkegaard reivindica o ver (e-videre) que está para além da observação, que nasce nas margens da própria experiência e não almeja qualquer centralidade. Busca-se, portanto, trazer reflexões sobre a relevância da clínica psicológica inspirada em Kierkegaard, no momento histórico atual, principalmente a partir de seu conceito de angústia, trazendo alguns pontos do conto Nas águas do tempo, de Mia Couto, como margem de experiência para se meditar sobre a possibilidade de uma Psicologia Experimentante na atualidade.

Full Text
Published version (Free)

Talk to us

Join us for a 30 min session where you can share your feedback and ask us any queries you have

Schedule a call