Tendo como seu ponto de partida o estado da arte dos estudos de línguas indígenas e de linguística histórica na atualidade e ultrapassando, portanto, as fronteiras de estados nacionais, o presente artigo revisita hipóteses importantes de Aryon Rodrigues, cuja obra é uma das mais constantes – senão uma das maiores - referências nos estudos de linguística e línguas indígenas, deste lado e do outro lado do Atlântico e no contexto deste século e da segunda metade do século precedente. O artigo revisita, entre outras, hipóteses como: a das relações pré-históricas e históricas entre as línguas do tronco Tupi e aquelas da família Karib (hipótese Tupi-Karib; Rodrigues 1985a, 2003b, 2007a); e a do relacionamento genético mais distante envolvendo Tupi, Karib e Macro-Jê (Rodrigues 1990, 2000a e 2007). Ao fazê-lo, busca mostrar caminhos que permitam testar a validade destas e de outras hipóteses, colocando em cena, consequentemente, a questão de seu valor científico e a verificação de seu papel no cenário dos estudos de línguas indígenas e de linguística histórica, sobretudo. Ao mesmo tempo, o artigo lança um olhar sobre os detalhes da argumentação de Rodrigues, da utilização consistente do método que sustenta diferentes trabalhos seus e que lhe permitiu levantar determinadas hipóteses e aperfeiçoá-las, quer com relação à classificação de determinadas línguas, quer com relação a estabelecimento de determinados agrupamentos genéticos e a reconstruções linguísticas, quer ainda com respeito ao fundamento fonético e fonológico de determinadas ideias avançadas – ideias essas que, possuindo consequências para o estudo da mudança linguística, repercutem sobre a própria teoria fonológica, por se caracterizarem por um olhar mais aberto para relações menos familiares (Rodrigues, 1981, 1986a e 2003c). De especial importância para a avaliação detalhada das contribuições de Rodrigues - em suas consequências para a fonologia histórica, por exemplo, e como aplicações paradigmáticas do método histórico comparativo - dá-se atenção ainda ao seu trabalho de classificação interna da família Tupi- Guarani (Rodrigues 1945, 1958, 1978, 1985b) e do estabelecimento de relações e de reconstrução dentro do tronco Tupi (Rodrigues 1966, 1980, 2005, 2007b; Rodrigues, Cabral & Silva 2006; Rodrigues & Dietrich 1997; Hanke, Swadesh & Rodrigues 1958) além das suas contribuições para o estabelecimento de um grupo Macro-Jê (Rodrigues 1986b, 1992, 1999, 2000b). Deste modo, ao tratar das hipóteses de Rodrigues, sua validade, valor e papel no cenário dos estudos de línguas indígenas e de linguística histórica, o artigo busca igualmente contribuir com uma visão em detalhe dos caminhos científicos que Rodrigues percorreu, em sua prática de análise, enquanto cientista da linguagem.
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