Este artigo se propõe a uma revisão bibliográfica do tema do luto na obra de Judith Butler tomando como argumento central a ideia de que o luto é o conceito em torno do qual a autora organiza sua filosofia. Ao entrelaçar reivindicação de direito ao luto público, crítica à violência de Estado, despossessão de si e interdependência, Butler desenha uma proposição ética a partir da condição de enlutável, dada desde o início da vida. A condição de enlutável nas vidas é desigualmente enquadrada e, nesse sentido, Butler procurar revelar os quadros que sustentam a condição de possibilidade de manter certas vidas como precárias. No percurso do texto, articulo ao tema do luto em Butler com as noções de biopolítica (Foucault), necropolítica (Mbembe) e estado de exceção (Agamben) a fim para refletir como a pandemia de covid-19 nos expõe a uma condição de vulnerabilidade global e, ao mesmo tempo, acentua desigualdades entre as vidas precárias.