Este artigo apresenta uma análise comparada dos romances O cortiço (1890), do brasileiro Aluísio Azevedo, e Emigrantes (1928), do português Ferreira de Castro. O objetivo é identificar como portugueses que emigraram para o Brasil foram representados em personagens dessas obras. Constatou-se que a migração em O cortiço aparece como degeneração provocada pelo meio social e natural hostil do Brasil, conforme preceitos da estética naturalista. Sob efeito do sol, da pobreza e da paisagem humana brasileira, os portugueses ou enriquecem pelo roubo e pela exploração da mão de obra, inclusive escrava, ou se submetem a uma vida de vícios. Por outro lado, esse fluxo migratório aparece como miragem em Emigrantes, pois a possibilidade de enriquecimento na América se desvanece no confronto com a experiência concreta dos personagens. No estudo, são mobilizadas contribuições dos críticos Antonio Cândido, Eduardo Lourenço e Miguel Torga, além de estatísticas que contextualizam a imigração portuguesa no Brasil.