O presente artigo contrasta duas lógicas distintas de prevenção que participam na governança contemporânea do crime: o policiamento preditivo e a gestão de crises internacionais. Mostramos como, nos dois casos analisados, o "crime" é tornado legível enquanto problema, possibilitando formas distintas de intervenção, a partir da realocação da presença policial no caso do policiamento preditivo, e da difusão de modelos de boa governança no caso da gestão de crises internacionais. Ilustramos como ambos os processos dependem da construção autoritativa de cartografias de risco para informar a adoção de tais modos de intervenção em nome da gestão do "crime". Nessas cartografias, a distribuição espacial do risco se funda, por um lado, na autoridade do conhecimento estatístico, e, por outro lado, na presença do especialista no “campo”. As formas de intervenção prescritas nesses contextos, por sua vez, reproduzem uma leitura gerencialista da prevenção do fenômeno criminal, que prioriza intervenções focadas na gestão do crime enquanto uma conjunção de riscos, relegando ao segundo plano elementos estruturais que contribuem para sua existência e circunscrevendo, assim, a sua política à gestão de crises e eventos.