Abstract
O conceito biomédico de dependência não consegue dar conta da atração exercida pelas cenas de uso de crack que vai muito além da necessidade de se consumir uma droga para aliviar a fissura. Uma antropologia do “fluxo”, como são chamados os movimentos e percursos em torno do consumo do crack, permitiu refletir sobre o porquê da existência de cracolândias e questionar certas dimensões da chamada dependência química. Prazer e sofrimento passam a ser considerados em sua dimensão social: a satisfação proporcionada em desfrutar da companhia de outros usuários e o constrangimento provocado pelo estigma em torno da droga. A conexão com os parças e a relações estabelecidas nas ruas possibilitam a fruição dos efeitos desejados da substância e ensinam modos de viver e perceber a cidade.
Highlights
The biomedical concept of addiction cannot handle the attraction of the crack consuming scenes that goes far beyond the need to use a drug to relieve the craving
Nos anos de 2013 e 2014, realizamos uma etnografia na região central de São Paulo por meio de observação participante, de entrevistas e de acompanhamento da vida cotidiana dos usuários de crack
Quando iniciamos as pesquisas sobre o consumo do crack em São Paulo, a questão que de imediato nos surgiu foi o porquê da formação de tão extensas aglomerações humanas em torno dessa prática, ao contrário de outras drogas, como a maconha e mesmo a cocaína cheirada ou injetada
Summary
Acreditamos, pelo tipo de inserção que empreendemos no campo, uma etnografia por quase seis anos com a possibilidade de frequentar as rodas de consumo de crack nos mais variados horários do dia e épocas do ano, poder oferecer um ponto de vista que nos permita elucidar considerações consistentes sobre o porquê da existência e enorme resiliência da Cracolândia. Localizada na região central da cidade de São Paulo, a Cracolândia, é uma imensa cena de uso de crack que chegou a possuir um “fluxo” de mil e quinhentos frequentadores diários (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, 2015). O local foi objeto de pesquisas etnográficas, referências sobre as quais fundamentamos nosso raciocínio, que destacaram os mais variados enfoques, tais como: (1) as relações entre o Estado, o legal e o ilegal Tal movimento leva a refletir sobre o porquê da existência de cracolândias e a questionar certas dimensões da chamada dependência química (ARAÚJO, et al, 2008)
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