Abstract
O artigo analisa as estampas de tapuias produzidas pela Viagem Filosófica (1783-1792) do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, a partir das teorias setecentistas que promoviam taxonomias e hierarquizavam a humanidade de acordo com o progresso técnico. Inicialmente, é realizado um balanço historiográfico sobre os estudos dedicados a Lineu, Buffon e Robertson. Em seguida, analisa-se como estes teóricos foram fundamentais para a composição das imagens. Os costumes, o meio e os contatos com portugueses e espanhóis explicavam, segundo Ferreira, a existência de diversas nações. Os povos da Amazônia constituiriam uma única raça, mas se encontravam em diferentes estágios da evolução humana.
Highlights
A hipótese, em consonância com o poligenismo, segundo Curran (2011, p. 67), foi rapidamente abandonada por Prévost, que se viu encurralado com a possibilidade de ser acusado de heresia e, voltando atrás em suas considerações, disse serem os negros africanos não uma espécie diferente, mas produtos de degeneração
Particularmente na memória sobre os guaicurus, quando descreveu a família, Ferreira demonstra que estava dividido entre a teoria de Buffon e a experiência americana, pois, ao mesmo tempo em que os descreve como bandidos nômades, os considera hábeis cavaleiros e ternos com as mulheres e os filhos
Torna-se muito claro nas memórias, assim como nas pranchas, que o diálogo com as teorias de Robertson permitiu ao naturalista discutir a inserção dos ameríndios no processo civilizacional e colonial, promovido mais intensamente na Amazônia desde as reformas pombalinas
Summary
Se a ênfase do segundo recaía sobre uma categorização que, sem querer minimizar sua obra, equivalia homens e macacos, o primeiro, definitivamente, negava tal posicionamento e ressaltava o homem como objeto da história natural e, portanto, único em seu grupo, se diferenciando de todos os animais. Indo em sentido inverso ao proposto por Michèle Duchet (1971), Todorov enceta a ideia de que “não surpreende, portanto, ver que ao lado da unidade do gênero humano Buffon também afirma sua hierarquização interna – cuja primeira amostra é próprio reconhecimento da hierarquia”, ou seja, já que os homens pertencem a uma única espécie, pode-se julgá-los, a todos, com a ajuda dos mesmos critérios, e com isso descobri-los diferentes, uns superiores aos outros.
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