Abstract

Este artigo é o primeiro resultado de pesquisa que tem como objeto a análise das críticas e resistências nas fotografias de Evandro Teixeira publicadas na Capa do Caderno de Cultura intitulado “Caderno B” do Jornal do Brasil, durante o regime civil-militar. O foco de análise se concentra mais precisamente no período de participação do fotógrafo no “Caderno de Cultura”, que se dá de março de 1963 até a Anistia, em agosto de 1979. Consideramos a expressão dos discursos visuais como enfoque principal e os discursos verbais como aporte de sustentação para analisar as representações jornalísticas. Apresentamos uma breve abordagem sobre a importância do “Caderno B” para a cultura na imprensa jornalística nacional, seguida de uma contextualização do trabalho do fotógrafo Evandro Teixeira para compreender, ainda que parcialmente, sua trajetória. Apesar de bastante explorada em trabalhos científicos, raros são os estudos sobre o fotógrafo dedicados a enfatizar a percepção da inserção de suas fotos nos cadernos culturais; fotografias que extrapolam a cultura e os atos da alta sociedade carioca para denúncias e críticas ao sistema então vigente. As fotos de Evandro Teixeira e as notícias que as acompanham demonstram, por vezes, proximidade com o discurso midiático do drama. O discurso simplificado, muitas vezes de formato afetivo, trazia à luz uma mensagem que pudesse ser facilmente captável pelos leitores. O tempo parece fluir em suas fotos, como se o passado fosse presentificado, ou ainda, como se houvesse uma espiral a confluir ora para frente, ou de outro ângulo, ora para o retorno a um evento que parece ser novamente o que outrora fora, só que diferente – ou ambos ao mesmo tempo, na tessitura de uma rede temporal.

Highlights

  • Abstract: this article is the first researching outcome that resulted in the analysis of the criticisms and resistances in the photographs of Evandro Teixeira, published on the Cover of the Culture Booklet entitled Caderno B of the Jornal do Brasil, during the Civil-Military Regime

  • Suas fotos mais que ilustrar matérias ou captar imagens, levavam à reflexão e denunciavam as ações do regime que, assim como o Jornal do Brasil, também teve seu “lado B” pouco explorado

  • Nos três casos descritos percebe-se que havia uma ação política, mas essa não era eficaz, seja pelas gafes em eventos, pela sonolência e exaustão em momentos de decisão ou, ainda, pela incapacidade de repelir ações delituosas de pequeno potencial ofensivo à segurança, mas de grande potencial de prejuízo econômico

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Summary

O Estado em desencanto

Duas fotos marcam o início da atuação de Evandro Teixeira: “Sinal dos Tempos”, do “Caderno A”, e, “Tomada do Forte de Copacabana”, do “Caderno B”, ícones de seu “lado A”, de seu fotojornalismo de manchetes e páginas principais. Evandro Teixeira foi chamado a dar explicações sobre o porquê de a capa do Jornal do Brasil estampar a imagem de “besourinhos” e não das autoridades como o General Artur da Costa e Silva – candidato da Arena à Presidência. A percepção, ainda que intuitiva, de que no meio da escuridão da noite, na entrada do Forte de Copacabana, em meio à composição de chuva, soldados em prontidão, entrada estreita quase sufocante, o aguardar algo ou alguém que fulguraria no horizonte, para além das luzes que refratam o olhar, prefigurando de terceiro plano e avançando rumo à instalação, aos corpos descritos por sua silhueta, ora iluminados, ora sombreados, no momento de risco que parece uma cena de filme de guerra, o fotógrafo aciona o click que parece apontar para o passado, presentificando-o e, como que em perspectiva, projetando em tessitura uma visão do futuro sombrio vindouro. O elemento detonador chega no veículo aguardado, e, em meio ao contexto em que está se inserindo, arremete ao protagonismo de opressão de um futuro incerto que estava por vir, entre “fardas e forças” que não permitiam ver a composição da luz, antes faziam contrapontos só permitindo ver o que se lhes era fora de contorno, em dias que se tornariam sombrios, a verter lágrimas apreensivos pelo despertar do “monstro que emerge da lagoa”

Despreparo em prever
A Política cotidiana intermitente
A interferência direta do Estado em benefício próprio e contra os mais fracos
A resistência nas ruas contra a invisibilidade e o apagamento
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