Abstract

O objetivo deste artigo é o de apenas evocar uma aproximação entre as marcas, tracejos e pontuações das diferentes formas de representar o estado de incerteza na vida, no social, na ficção e na ciência. Literatura e cinema, ciência e tecnologia, psicanálise e arte, tais objetos desvelam o nó da transitoriedade com temas iguais em linguagens diferentes e funcionam substancialmente como mecanismos que ancoram a posição de instabilidade e deslindam as agruras de um novo mundo objetivado na riqueza exclusora e dessubjetivado no estado da violência. As faltas de ordem do referencial imaginário e identificatório ressoam as impossibilidades da parte concreta de existência revirada em contratempos e perdas, alteração brutal do estado de coisas, desaparecimentos e desmemórias. Os furos linguísticos, o ato da escrita e a extração da linguagem desafiam a percepção da passagem do tempo, de suas hesitações e principalmente de sua condição de não saber por excelência. Por isso, debater sobre este estranho que bate à porta e habita o cerne social regido na lógica da mercadoria, e que insiste em alongar seu litoral e perpetuar sua fúria no íntimo de cada um, é o convite para o pensamento deste texto junto da literatura e dos conceitos da psicanálise. Quais palavras as letras podem formar em uma temporalidade acelerada com ideias comprimidas e associações interrompidas? É possível destacar que o inconsciente estruturado como linguagem manifesta a partir da escrita e das letras a pronúncia do seu sofrimento no âmbito de tratamento clínico, talvez essa seja uma alternativa e esperança ou um dos últimos suspiros para intervir no radicalismo da racionalidade neoliberal.

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