Abstract

Em 1669 surgia em Paris Lettres Portugaises, coletânea de cartas de amor de Mariana Alcoforado ao Chevalier de Chamilly. Parte do fascínio e do sucesso editorial resultou do mistério que envolvia a sua autoria e da capacidade de inscrever o desejo no tecido textual, fazendo avultar contradições, obsessões e dilemas da experiência amorosa. Desde então, vem despertando profundo interesse, suscitando leituras na fronteira entre realidade e ficção, pelo que o nosso propósito consiste em rastrear no discurso televisivo, cinematográfico e teatral derivas e (re)figurações desse protótipo feminino. Numa certa fase, ganhou relevo o lastro ideológico da transgressão das convenções morais e das normas sociais, pela assunção da sexualidade e pela contestação do regime de clausura. É essa dimensão de resistência que Maricla Boggio aproveitará em La monaca portoghese (1980). Em termos de transposição audiovisual, é de considerar Mariana Alcoforado (1979), de Eduardo Geada, pela relevância dos procedimentos de figuração da personagem e por participar de uma série de produtos televisivos baseados em obras literárias. Em La religieuse portugaise (2009), Eugène Green propõe um diálogo insinuante com a tradição cultural ao apresentar Julie de Hauranne, que vem até Lisboa para participar na rodagem de um filme sobre Mariana, mas que acaba por partir à descoberta de si própria. Já a longa-metragem de B. François-Boucher Les lettres de la religieuse portugaise, apresenta-se como «comédie dramatique historique», numa deambulação entre o horizonte temporal de origem e o limiar do nosso tempo, explorando os meandros da paixão amorosa e o campo da sentimentalidade a partir do feminino, numa linha estética similar à de Ingmar Bergman.

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