Abstract
O discurso é composto por várias vozes, premissa anunciada desde os estudos de Bakhtin. Os avanços no campo da intertextualidade permitiram uma especificação maior do termo, abrindo espaço para discussão das várias ocorrências do intertexto na literatura. Na obra da dramaturga contemporânea alemã, Dea Loher, há a recorrência do trabalho com o intertexto, sendo que o presente artigo almeja investigar essas manifestações em duas de suas peças, Olgas Raum e Licht. Loher faz uso de citações, referências e alusões, recortando trechos de outros textos e acoplando-os à sua escrita. Esse jogo de recortar e colar é visível também na estética da dramaturga, que recorre a elementos presentes em outras estéticas teatrais e os adapta em sua obra, dando origem a um estilo original. Representante da vertente política no teatro, Loher proporciona ao leitor a possiblidade de reflexão e, nas duas peças em questão, ela o faz através da desconstrução do discurso canônico, mostrando como os discursos são fabricados e como estão ligados à manutenção do poder. Dessa maneira, o intertexto, a estética híbrida e outros recursos estéticos e linguísticos são orquestrados para abrigar essa temática política que chega até o leitor como questionamentos e indagações.
Highlights
Discourse is made of several voices, a premise that was announced since Bakhtin’s studies
O discurso contemporâneo colabora com a proliferação de várias vozes, entretanto, o diálogo entre textos já fora amplamente discutido desde os estudos de Bakhtin que se concentravam na multiplicidade de vozes que compõe um discurso
O trabalho de Samoyault (2008) é justamente desvendar os entraves que circundam esse fenômeno e sua manifestação nos textos literários pontuando as várias maneiras de retomada textual e sua acomodação em um texto de acolhida
Summary
Compagnon (1996) faz um trajeto mostrando o trabalho da citação enquanto uma técnica de colagem, um jogo infantil de recortar e colar. As cenas da peça se alternam em diálogos e monólogos interiores de Olga que conduzem o leitor a um percurso de reconhecimento da personagem, uma figura pública, cuja história é conhecida do grande público, mas cuja vida privada Loher quer fazer conhecer através da ficcionalização dos eventos históricos. O pós-modernismo é dotado de ambivalência política e renegocia as fronteiras entre o público e o pessoal, exatamente o que Loher faz em seu drama ao mesclar estas fronteiras fazendo com que os âmbitos público e privado se confundam através de uma estética híbrida, como é o caso das peças já mencionadas nas quais duas personagens históricas, Olga Benário e Hannelore Kohl, são ficcionalizadas. A inserção de personagens históricas, os fatos sendo desvelados por intermédio da memória em meio a uma estrutura dramática não convencional são elementos que afirmam o interesse político da arte de Loher
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