Abstract

As rebeliões escravas que ocorreram na Bahia na primeira metade do século XIX tiveram significativa participação de africanos escravizados trazidos do Sudão Central, região que desde o começo do Oitocentos se tornara cenário de conflitos políticos de base religiosa, iniciados com o jihad de 1804 liderado por Usuman dan Fodio. Milhares de vítimas dessas guerras abasteceram embarcações negreiras que deixavam a Costa da Mina com destino à Bahia. Foram africanos trazidos dessa região, sobretudo haussás adeptos de vários tipos de devoção islâmica, os protagonistas de diversas conspirações e revoltas entre 1807 e 1816, a mais séria das quais aconteceu em fevereiro de 1814, e envolveu escravos de Salvador e subúrbios litorâneos. Esta revolta é aqui analisada com base no acórdão de sentença dos réus e outros documentos. O artigo discute o papel da religião (Islã), da identidade étnica (haussá) e de outras experiências africanas em ambos os lados do Atlântico, quanto a liderança, organização, mobilização, táticas e objetivos da revolta.

Highlights

  • RESUMO As rebeliões escravas que ocorreram na Bahia na primeira metade do século XIX tiveram significativa participação de africanos escravizados trazidos do Sudão Central, região que desde o começo do Oitocentos se tornara cenário de conflitos políticos de base religiosa, iniciados com o jihad de 1804 liderado por Usuman dan Fodio

  • O artigo discute o papel da religião (Islã), da identidade étnica e de outras experiências africanas em ambos os lados do Atlântico, quanto a liderança, organização, mobilização, táticas e objetivos da revolta

  • ABSTR ACT The slave rebellions that happened in the first half of nineteenth-century Bahia counted with a significant number of Africans brought from the Central Sudan, a region that had been the scenario of religion-based political conflicts since the 1804 Jihad led by Usuman dan Fodio

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Summary

João José Reis**

RESUMO As rebeliões escravas que ocorreram na Bahia na primeira metade do século XIX tiveram significativa participação de africanos escravizados trazidos do Sudão Central, região que desde o começo do Oitocentos se tornara cenário de conflitos políticos de base religiosa, iniciados com o jihad de 1804 liderado por Usuman dan Fodio. Fulanis, haussás, bornos, baribas (naturais de Borgu), tapas (de Nupe) e nagôs (de Oyó), apesar de já constarem entre as vítimas do tráfico transatlântico em período anterior, depois da guerra santa tiveram sua presença consideravelmente aumentada nos porões dos tumbeiros, sobretudo daqueles que da Costa da Mina se destinavam à Bahia, por ser esta o principal mercado e a base dos marchantes que controlavam a maior porção do tráfico naquele trecho do litoral africano no início do século XIX.[20]. E mais: de todos os africanos exportados da Costa da Mina no período, que foram perto de 125 mil, 84% tiveram como destino a Bahia.[21] Não é possível estabelecer com precisão de onde vinham esses escravos, mas uma grande parte decerto fora capturada no contexto do jihad.

Os rebeldes haussás na Bahia
Os líderes
Duas senzalas rebeldes
Histórias de outros rebeldes
Armas e táticas
Findings
Os rebeldes segundo o conde dos Arcos
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