Abstract
Resumo O artigo explora contribuições epistemológicas e metodológicas de duas pioneiras da sociologia, Flora Tristan e Harriet Martineau, como parte de um programa mais amplo de reavaliação da formação da disciplina no século XIX. Argumenta-se que, não obstante as diferenças, essas autoras apresentaram reflexões originais à época que permanecem relevantes nos debates sociológicos contemporâneos sobre interseccionalidade, posicionalidade, conhecimento e método na pesquisa social. Ao resgatar a originalidade das ideias de ambas, o texto reforça a necessidade de revisar a história fundacional da sociologia. Por fim, essa perspectiva articula-se à preocupação interseccional com as condições de produção e circulação do conhecimento.
Highlights
El artículo explora contribuciones epistemológicas y metodológicas de dos pioneras de la sociología, Flora Tristan y Harriet Martineau, como parte de un programa más amplio de reevaluación de la formación de la disciplina en el siglo XIX
Martineau participou do processo de introdução da expertise científica na esfera política e também da construção de uma comunidade de leitores e de pares praticantes de uma ciência do social na Inglaterra
A mobilização de suas experiências pessoais como atestado de uma suposta verdade sobre os fatos coloca em questão um debate que ainda hoje movimenta o campo das ciências sociais: o lugar das emoções, das subjetividades e da identificação na construção da confiança, que serve de base para o conhecimento e a prática científicos
Summary
Propomos uma análise das obras de Flora Tristan (França, 1803–1844) e de Harriet Martineau (Reino Unido, 1802–1876) a fim de discutir conhecimento e método na sociologia com base em uma perspectiva interseccional. Tristan e Martineau apresentaram aportes relevantes para a sociologia, que repercutem nos dilemas atuais da área: a relação entre ciência e política, a construção social da autoridade e da credibilidade, a ação das desigualdades no campo científico, a posicionalidade dos cientistas sociais, o papel da subjetividade e dos valores na pesquisa, a não neutralidade dos métodos e técnicas científicos, assim como as tensões entre as diferentes formas de falar da sociedade. O que interessa aqui é interrogar como gênero, entendido como uma categoria que desestabiliza o caráter essencialista e identitário da noção de mulher (Piscitelli, 2001), opera em articulação com outras categorias, como classe e deficiência, nas relações sociais das quais essas escritoras fizeram parte e que deram sentido à sua produção de conhecimento sobre a sociedade (Scott, 1995: 84). Em 1838, Flora Tristan protocolou na Câmara dos Deputados de Paris uma petição para o restabelecimento do divórcio, apontando para a arena de disputas que elegeria para travar suas batalhas pessoais e políticas: as leis (D’Atri, 2019)
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