Abstract

Procura-se aqui construir um quadro, ensaístico e necessariamente breve, da mundividência no Ministério das Colónias liderado por Marcelo Caetano nos anos críticos de 1944 a 1947. Convocam-se sobretudo elementos de complexidade para uma compreensão do posicionamento dos principais atores internacionais ocidentais a partir do pós-guerra, segundo um ângulo de visão pouco estudado. Isto permite ensaiar um exercício de exploração de espaços cinzentos, ambiguidades, contradições ou paradoxos de uma inegável atualidade. Nomeadamente no que diz respeito aos particularismos que caracterizam the english way e american way of life. Em que medida estes particularismos contribuíram para dificultar, mais do que facilitar, processos fundamentais do pós-guerra como a descolonização e o desenvolvimento? De igual modo, em que medida o confronto bipolar (ideológico, propagandístico, etc.) funcionou como acelerador mas também dificultador desses processos?Este exercício possibilita também perceber melhor a visão de Marcelo Caetano, que viria a ser o último líder do Estado Novo, sobre a ordem mundial em gestação, os seus problemas e paradoxos, bem como a sua perspetiva sobre a cultura e essa «forma portuguesa de estar no mundo» ou um presumível portuguese way of life.

Highlights

  • Search here to build a picture, essayistic and necessarily brief, of the world view in the Ministry of the Colonies led by Marcelo Caetano in the critic years 1944 to 1947

  • We call for particular elements of complexity to an understanding of positioning of the main international actors from the post-war period, according to a viewing angle little studied

  • A universalização do condicionamento da forma de «fazer política» iniciada durante a Grande Guerra, ou seja, a guerra total, que levaria Ernst Junger (1895-1998) a considerar este evento historicamente mais relevante do que a Revolução Francesa(4), não possibilitou a vitória do desvio da noção de «totalidade» protagonizada mais tarde pelo aparelho nazi, empenhado numa teoria gestionária de «estado moderno»(5), mas tornou irreversível a valorização estratégico-política dos meios de mobilização e controlo das «consciências» como eixo da nova «arte de governar»

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Summary

Magníficas idiossincrasias anglo-americanas?

Pouco mais de um mês após a Conferência de Casablanca (entre Roosevelt e Churchill), um mês após as derrotas da wehrmacht em Estalinegrado e da kriegsmarine no Mar de Barents, e quando já se adivinhava a derrota do afrika korps no norte de África (verificada em maio/junho), MC escreveu o seguinte ao presidente do Conselho (1 de março de 1943): Se me fosse dado emitir um voto, falando com aquela franqueza que me é imposta como um dever por 14 anos de colaboração com V.a Ex.a e algum trabalho e sacrifício dado ao Estado Novo desinteressadamente, eu preconizaria uma renovação do pessoal governante. O excesso de voluntarismo em transformar aquele documento – a Carta do Atlântico – num antecedente dos vetores que dominaram a política mundial no pós-guerra, nomeadamente o processo descolonizador, assemelha-se sobremaneira à inclusão de Kant entre os vários pioneiros projetistas políticos das organizações e espaços supranacionais que ganharam forma durante o século XX. (27) No Segundo Artigo definitivo para a Paz Perpétua o filósofo alemão definiu claramente que «o direito das gentes deve fundar-se numa federação de estados livres». Antes sugeria uma Federação da Paz, que «não se propõe obter o poder do Estado, mas simplesmente manter e garantir a paz de um Estado para si mesmo e, ao mesmo tempo, a dos outros Estados federados, sem que estes devam por isso (como os homens no estado de natureza) submeter-se a leis públicas e à sua coação». Para mais falta-lhes de espírito realista o que lhes sobre de ingenuidade utópica(32)

Trágicas idiossincrasias anglo-americanas?
Propaganda: um elemento perturbador?
Singularidades do modelo económico imperial britânico
Cultura e caráter?
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