Abstract

Este artigo se dedica a investigar o trabalho jornalistico do reporter catalao Bru Rovira, de modo a evidenciar as estrategias sensiveis que, sob uma mirada dialogica-afetiva (Buber, 1979; Medina, 2006), atravessam sua dinâmica narrativa e atrelam sua escritura e registros fotograficos. Especificamente, analisa-se o conjunto texto-fotografia que compoe as reportagens de Rovira (2006) sobre Liberia e Ruanda, no periodo pos-Guerra-Fria, com o objetivo de refletir sobre a experiencia de intersubjetividade mobilizada nessas tessituras e de assinalar como a imagem midiatica, tal qual a peca textual, pode configurar-se em instância de encontro com o Outro.Palavras-chave: Narrativa jornalistica. Fotojornalismo. Africa. Bru Rovira.

Highlights

  • Aconstrução do conhecimento na contemporaneidade passa, nas palavras de Künsch (2000, p. 290), pela necessidade de “uma reviravolta no modo de se colocar diante do mundo, das pessoas, do outro”, a partir da superação do paradigma de disjunção, apontado por Morin (2002)

  • Ao se atrelar ao signo da compreensão, na linha propositiva de Künsch (2005), fortalece-se como método apto a apreender as múltiplas nuances – como indica Maffesoli (2010, p.17), em sua defesa de uma sociologia compreensiva: “em vez de cortar com brutalidade este nó górdio chamado realidade social, mais vale saber desembaraçar, com paciência, seus múltiplos fio entrelaçados”

  • Interessa-nos identificar, em sua obra, a presença de tais elementos enquanto dispositivos narrativos que, circunscritos na esfera da alteridade, manifestam o movimento básico dialógico, de que fala Buber (1982, p.146): “voltar-se-para-o-outro” e “experienciar o Outro como uma totalidade e, contudo, ao mesmo tempo, sem abstrações que o reduzam, experiencia-lo em toda sua concretude”

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Summary

Na trilha da complexidade e da compreensão

Tal qual indicado nos apontamentos introdutórios deste artigo, a mirada propositiva que aqui se desenvolve resulta do convite de Künsch (2005) a incorporar, no plano. Sob uma mirada intersubjetiva, o periodista se atenta aos sentidos construídos pelos personagens reportados, para oferecer ao leitor a identificação que lhe permite adentrar realidades diferentes das suas. Frente às realidades das guerras esquecidas, nas quais as vítimas não têm personalidade e “su lugar en el mundo se diluye en el mapa mudo de la desmemoria, desdibujando una geografía sin nombres” (Rovira, 2006, p.129), sublinha-se a importância do ofício narrativo de reconhecimento dessas histórias, para tirar-lhes do anonimato que estigmatiza e silencia o continente: Costumamos apresentar aqueles que sofrem como seres molestos, talvez para apartar a ideia de que algo similar nos possa ocorrer algum dia, como já nos aconteceu no passado: talvez, tudo isso tenha a ver com o sentimento que preside nossa relação com a África, o sentimento não admitido de que é preferível ignorar o que não podemos suportar; ignorar porque, se soubéssemos, não poderíamos suportar a nós mesmos (Rovira, 2006, p.28, tradução nossa). Chama-se a atenção para a percepção de que seus registros, na contramão da caçada de imagens mais dramáticas que constitui “uma cultura em que o choque se tornou um estímulo primordial de consumo e uma fonte de valor” (Sontag, 2003, p.23), parecem privilegiar a captura de detalhes singelos – discretos, porém emblemáticos, sob um gesto que enseja aproximar leitor e personagem, reforçando assim a possibilidade de alteridade e encontro com o Outro visada desde o plano de escritura

Tessituras sensíveis na experiência fotográfica de Bru Rovira
Considerações finais
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