Abstract

O objetivo do texto é fazer uma análise das menções de Theodor Adorno à obra de Dostoiévski, enfatizando as relações entre a concepção do filósofo sobre a “vida danificada” e a obra literária do autor russo. Está em jogo demonstrar o quanto a “epopeia negativa” vista por Adorno em Dostoiévski se corporifica no delineamento de uma subjetividade subterrânea a partir da ideia de um excesso subjetivo fragmentado, que desemboca na ideia de má-consciência e, por fim, na falência psíquica. Tais elementos serão investigados na interpretação do romance “O duplo. Poema petersburguense”, de Dostoiévski.

Highlights

  • The objective of the text is to analyze Theodor Adorno’s mentions of Dostoevsky’s work, emphasizing the relationship between the philosopher’s conception of “damaged life” and the Russian author’s literary work

  • It is at stake to demonstrate how much the

  • by Adorno in Dostoevsky is embodied in the delineation of an underground subjectivity

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Summary

A dialética intrínseca da forma romance

A ênfase inicial de Adorno no texto “A posição do narrador no romance contemporâneo” é a impossibilidade de o sujeito narrar(-se) em meio ao mundo caótico e destituído de legitimação suficiente no horizonte sombrio do capitalismo. A própria alienação monadológica subjetiva é trazida para o tecido literário, tornando-o metafísico, colocado além da empiria das relações concretas, tornadas por demais abstratas em função de sua fungibilidade capitalista: “se o romance pretende permanecer fiel a sua herança realista e dizer como o mundo de fato é, então ele precisa renunciar a um realismo que, ao reproduzir a fachada, auxilia-a em sua atitude mistificadora” No extremo peso da realidade socioempírica à nossa compreensão, resta ao romance uma terceira via de denúncia emancipadora, além do aprofundamento psicológico e da torção poética de sua linguagem, a saber: a intromissão do discurso autoral em primeira pessoa na ficção, o desnudamento metaliterário da narrativa, a suspensão da distância estética por meio do comentário não apenas sobre personagens (como já se fazia em romances pré-modernos), mas sobre a própria pessoa-autora, fazendo o leitor participar da construção da obra. Trata-se de personagens essencialmente valorativas, cujo ponto de apoio para a narrativa é sua autoimagem ideativa: são por assim dizer “personagens de segunda ordem” (BAKHTIN, 1997, p. 48).[12]

Dostoiévski: uma epopeia negativa
A dessubstantivação do sujeito: falência social e ruptura egóica em O duplo
12. Frankfurt am Main
Frankfurt am MaIn
München

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