Abstract

Este artigo identifica as principais convergências e dissonâncias metodológicas entre a Teoria dos Sistemas (Luhmann) e a Teoria da Prática (Bourdieu), valendo-se para isso de um contrastivo insight em seus conceitos-chave autopoiesis e anomia. Partindo das reflexões sociológicas-filosóficas de Christian Hartard (2010), o artigo examina criticamente o princípio da recursividade circular perpassando a concepção de sociogênese dos dois autores e o dilema da dupla hermenêutica deflagrado no discernimento emancipador do sujeito. Conclui-se que a recursividade inerente aos dois conceitos construtivista-generativista pressupõe a incorporação de elementos exógenos com capacidade transformatória das estruturas historicamente sedimentadas (Luhmann), respectivamente, dos corpos socializados (Bourdieu), através de processos de diferenciação e distinção, que ocorrem, contudo, dentro de estabelecidas restrições. Ambos autores pleiteiam pelo questionamento crítico do status quo interiorizado pelo sujeito, suscetível de restituir a capacidade de desmascarar as necessidades dóxicas da dupla contingência (Luhmann), respectivamente da legitimação hierárquica disfarçada (Bourdieu), ao observador da terceira ordem.

Highlights

  • This paper identiies the main methodological convergences and dissonances between the System Theory (Luhmann) and the Theory of Practice (Bourdieu), confronting the two conceptions with a series of criticisms on the basis of Christian Hartard’s ideas (2010)

  • Dentro do panorama dos estudos que fazem uma análise comparativa entre as obras teóricas de Niklas Luhmann e Pierre Bourdieu destacam-se as contribuições sociológicas-ilosóicas de Christian Hartard (2010), assinalando pela congruência conceitual existente entre ambos os autores com respeito à concepção de um historicamente evoluído universo social constituído pela incessante operação auto-generadora de diferenciação e distinção realizada pelo sujeito

  • Consoante as asserções de Hartard (2010), os princípios fundamentais da gênese construtivista inerentes a ambos as teorias sociais se originam no funcionamento operacional de circuitos autárquicos a medida que os outputs da estruturas sociais, dentro da alegorizada máquina geradora de processos históricos, re-alimentam os novos inputs

Read more

Summary

O conceito autopoiesis na Teoria de Sistemas de Luhmann

Criticando abertamente a metafísica ontológico-consensual em virtude da sua categórica omissão do não-racional, imperfeito, desviante e caótico, Luhmann dessubstancializa na sua Teoria dos Sistemas (LUHMANN, 1987) as categorias ético-normativas da tradição ilosóica ocidental, substituindoas pelo hiperônimo de “diferença” com postulada neutralidade operacional (HARTARD, 2010). Conforme a linha de raciocínio de Luhmann, o termo “sociedade” é sinônimo de comunicação – entendida como reprodução de seus elementos estruturais e como constante distinção entre interfaces não-ontológicas relevantes (“atualidades”) e irrelevantes (“potencialidades”) através de processos de descarte e aproveitamento – cuja morfogenética se estrutura pela ininita multiplicação de perspectivas desconstruindo paradoxos da terra incógnita: o entorno (LUHMANN, 1998). É oportuno assinalar que, em oposição à concepção da gênese de “campos” de Bourdieu, regida pela lógica de reprodução conlituosa de diferentes disposições de capitais e sua legitimidade, o conceito de Luhmann se opõe, a priori, a qualquer tendência de hierarquização de pessoas e classes conforme diferenças primárias objetivas à medida que incorpora o ser humano dentro de especíicas sociedades parciais como portadores e não donos de diferenciadas disposições estratiicadoras com o resultado que a própria ordem supersistêmica consiste em uma ininitude de alternativas exploráveis (HARTARD, 2010). Consequentemente, a neutralidade operacional de códigos binários se transforma em contato com a realidade social em um instrumento condensador de persistente acumulação de valores positivos ou negativos que engendra a verticalização estratiicadora subsumida em padrões de exclusão e inclusão

O princípio de anomia dentro da Teoria da Prática de Bourdieu
A recursividade operacional dos conceitos autopoiesis e anomia
O dilema da dupla hermenêutica no “ponto cego” do momento emancipador
Full Text
Paper version not known

Talk to us

Join us for a 30 min session where you can share your feedback and ask us any queries you have

Schedule a call

Disclaimer: All third-party content on this website/platform is and will remain the property of their respective owners and is provided on "as is" basis without any warranties, express or implied. Use of third-party content does not indicate any affiliation, sponsorship with or endorsement by them. Any references to third-party content is to identify the corresponding services and shall be considered fair use under The CopyrightLaw.