Abstract

Esperando contribuir para o debate sobre a mudança social das vivências afetivo-sexuais no Portugal de transição da ditadura para a democracia, analisei o conteúdo de revistas e jornais (Mulher - Modas & Bordados, Crónica Feminina, Expresso e Diário de Lisboa), publicados entre 1968 e 1978. De que se fala e o que se diz na imprensa sobre direitos sexuais e de gênero, neste período marcado pela euforia da Revolução de 25 de abril de 1974? Neste artigo, analiso uma carta, um manifesto e uma reportagem que marcaram a agenda midiática da cidadania da sexualidade logo após a Revolução dos Cravos. Os três conteúdos associam liberdade política à liberdade sexual e equacionam as nossas vivências íntimas enquanto assunto público e de cidadania: a história pessoal sexual de uma adolescente (Gisela) enviada à redação de uma revista feminina; o primeiro manifesto homossexual português, publicado na imprensa duas semanas após a Revolução dos Cravos; e um documento assinado por 500 prostitutas (reivindicando direitos sociais e políticos), que é trazido à agenda de uma reunião feminista do Movimento Democrático da Mulher. Na imprensa analisada, o direito à sexualidade feminina pré-conjugal (reivindicado por Gisela), o direito à “livre prática homossexual” e o direito ao “amor livre” marcaram, nesse período, a emergência de uma cidadania da sexualidade (ou cidadania íntima), em desenvolvimento até hoje. Porém, apenas a história pessoal sexual de Gisela desperta entre as leitoras um longo debate sobre a importância das questões da intimidade para a democracia.

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