Abstract
A poesia afro-brasileira surge no momento em que o afrodescendente assume a posição de sujeito da enunciação. Ao tomar posse da palavra, o descendente de africano revela um "existir negro" no seu modo de ver e sentir o mundo, por meio de um eu-enunciador-que-se-quer-negro e que contesta os valores representados pela cultura dominante, além de mostrar os aspectos da sociedade não revelados pela literatura instituída. Nesses escritos, também chamados de contraliteratura, por promoverem a ruptura com a escrita ditada pelos brancos, o poeta não fala somente em seu nome. Nessa perspectiva, o escritor é o porta-voz de sua etnia e, portanto, afirma sua condição de negro. Ao mesmo tempo, busca uma identidade para representá-lo em sua poesia, visto que a procura de uma identidade negra é a característica fundamental da poesia afro-brasileira. Dentre esses poetas afro-brasileiros, encontra-se o autor Cuti (2011), cuja poesia será objeto de estudo nesse artigo, no sentido de compreender como esse poeta constrói a identidade negra nos seus escritos. Para atingir esse objetivo, identificaremos os elementos a que o poeta recorre para construir essa identidade.
Highlights
AfroBrazilian poetry arises when the Afrodescendants take over the position of subjects of enunciation
O que se precisa é jogar o ferro fora é quebrar todos os elos dessa corrente de desesperos (Cuti, 2011, p. 148)
Isso pode ser observado nos seguintes versos “Na verdade, o que se precisa / é jogar o ferro fora / é quebrar todos os elos / dessa corrente / de desesperos”
Summary
O que se precisa é jogar o ferro fora é quebrar todos os elos dessa corrente de desesperos (Cuti, 2011, p. 148). O que se precisa é jogar o ferro fora é quebrar todos os elos dessa corrente de desesperos A segunda ocorrência “Depois o ferro alisa / a vergonha nos cabelos”, faz alusão ao apetrecho utilizado para modificar uma característica identitária marcante desse grupo étnico. Podemos entender essa alteração na característica étnica como uma consequência da internalização da imagem negativa atribuída a essa população pelo grupo dominante. Isso pode ser observado nos seguintes versos “Na verdade, o que se precisa / é jogar o ferro fora / é quebrar todos os elos / dessa corrente / de desesperos”. O eulírico enfatiza que apesar do grupo opressor tentar apagar as marcas da identidade negra por meio de um discurso que inferioriza o afrodescendente, a populaçãoafrobrasileira que saiu da alienação resiste e afirma a sua negritude. Sou negro Negro sou sem mas ou reticências Negro e pronto! Negro pronto contra o preconceito branco O relacionamento manco Negro no ódio com que retranco Negro no meu riso branco Negro no meu pranto Negro e pronto! Beiço Pixaim Abas largas meu nariz Tudo isso sim Negro e pronto! Batuca em mim Meu rosto Belo novo contra o velho belo imposto
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