Abstract

<p>A instituição da escrita em comunidades indígenas brasileiras tem aumentado nas últimas décadas, podendo ser uma importante aliada para o fortalecimento, a manutenção e a revitalização dessas línguas, desde que respeitem diversos fatores linguísticos e extralinguísticos. Neste artigo, discutiremos a ortografia da língua Mundurukú (Tupí) que, por ter sido elaborada inicialmente com fins religiosos, foi pensada mais para os falantes nativos da língua do que para os não falantes. Por essa razão, traços suprassegmentais da língua falada, não representados na escrita, têm se tornado uma barreira no aprendizado da língua na comunidade Mundurukú da Terra Indígena Kwatá-Laranjal, no Amazonas, onde todos são monolíngues em Português. Isso nos motivou a elaborar uma proposta em direção à preparação de materiais pedagógicos para o ensino da língua nessa comunidade, cujos descendentes lutam para retomar a língua ancestral. Trata-se da elaboração de um vocabulário que inclui sinais gráficos para marcar os tons e a laringalização, dois traços suprassegmentais contrastivos na língua, que, na ortografia Mundurukú, não são sinalizados. Para falantes nativos, a ausência dessas marcações não parece afetar seu aprendizado; porém, para os Mundurukú do Amazonas, que falam apenas o Português, uma língua acentual, não ter qualquer pista dessas características compromete sua eficácia. Portanto, propomos uma forma de representá-los ortograficamente usando dois diacríticos, o acento agudo, para marcar as vogais de tom alto, e o acento grave, para marcar as vogais laringalizadas. A principal função desta adaptação é promover exclusivamente a aquisição do léxico, portanto, não se trata de uma mudança definitiva na ortografia da língua. Neste assunto, consideramos várias implicações com a decisão de adotar ou não sinais gráficos para essas características suprassegmentais. </p>

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