Abstract

Acompanhando a reconstrução da origem do conceito teológico de oikonomia, que Giorgio Agamben oferece na obra O Reino e a Glória: Uma Genealogia Teológica da Economia e do Governo: Homo sacer II, 2 (2011), o artigo propõe uma releitura dos trechos nos quais, em suas cartas às igrejas, o apóstolo Paulo utiliza o termo grego. Essa releitura confirma a proposição geral do filósofo italiano, de que a compreensão da oikonomia como uma “administração” dos homens e das coisas, como um paradigma gerencial, não parece ter sofrido alterações semânticas expressivas nos escritos de Paulo e na linguagem corrente entre os cristãos até o fastígio do Império Romano. Não obstante, tal releitura acaba por indicar fragilidades significativas em O Reino e a Glória, as quais podem ser constatadas tanto pelo leitor não especializado como pelos estudiosos de Agamben nos campos da filosofia, da teologia e da economia política. Essas notas sobre a obra de Agamben são, por fim, uma tentativa de estabelecer um diálogo com outros textos recentemente publicados no Brasil sobre o autor.

Highlights

  • Essa releitura confirma a proposição geral do filósofo italiano, de que a compreensão da oikonomia como uma “administração” dos homens e das coisas, como um paradigma gerencial, não parece ter sofrido alterações semânticas expressivas nos escritos de Paulo e na linguagem corrente entre os cristãos até o fastígio do Império Romano

  • Com a publicação original de Il Regno e la Gloria, em 2007, Agamben apresentou os resultados de uma longa investigação sobre as modalidades e razões do poder ter assumido, no Ocidente, a forma de uma oikonomia

  • Accompanying the genealogy of the theological concept of oikonomia, which Giorgio Agamben offers in The Kingdom and the Glory, the article proposes a rereading of passages in which the Apostle Paul, in his letters to the churches, uses this Greek term

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Summary

A OIKONOMIA NAS EPÍSTOLAS DE PAULO

4.1 1 Coríntios 9:16-17 De antemão importa dizer que, apesar de algumas versões bíblicas estarem mais próximas do sentido literal do verbo oikonomen e apresentarem tanto para essa passagem como em outras a palavra “mordomia”, a opção dos tradutores por “dispensação” é francamente predominante, seja em 1 Coríntios ou nas demais cartas às igrejas, como se verá adiante. Diz o texto: Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho! E por isso, se o faço de boa vontade, terei prêmio; mas se de má vontade, apenas uma dispensação me é confiada [oikonomian pepisteumai]. (BÍBLIA, 2007, p. 1243). Dele depreende-se, simplesmente, que, não estivesse Paulo bem disposto a cumprir essa obrigação, que lhe foi atribuída divinamente, ela seria apenas uma incumbência ordinária – e sem gratificação, como aquela confiada a um mordomo por seu senhor. No segundo texto (cuja interpretação adequada de oikonomia, segundo Agamben, também seria a de “atividade” e “encargo” confiado), dirigindo-se ao jovem Timóteo Paulo diz: Como te roguei, quando partia para a Macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns, que não ensinem outra doutrina, nem se deem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação de Deus [{oikonomian ou oikodomian} theou], que consiste na fé; assim o faço agora. Ambos os termos são comumente utilizados por Paulo, mas nesse contexto – como em outros textos que serão vistos à frente (Romanos 14:19; 1 Coríntios 14:3; 2 Coríntios 12:19; Efésios 4:16 etc.) – o segundo deles parece ajustar-se mais perfeitamente. Trata-se, pois, de outra extensão analógica da denotação original, e o termo evoca simbolicamente algo como o desenvolvimento da obra de santificação, que é mediante a fé em Deus

INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
DA MODERNA ECONOMIA POLÍTICA À OIKONOMIA ANTIGA
Colossenses 1:24-25
Efésios 1:9-10 e 3:8-9
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