Abstract

No horizonte do drama migratório na Europa, um duplo registro textual acompanha a experiência exílica: a proliferação de relatos de vida no papel ou na web, e relatos do percurso a serem submetidas aos gestores públicos do direito de asilo. Mas o migrante mente. O migrante mente no relato que faz a si mesmo para suportar o insuportável, e mente às autoridades para cumprir os critérios de concessão do estatuto de refugiado. Não é mentir, é responder a uma instância de legitimação que se situa entre a verdade e a mentira, entre dois registros veridiccionais, uma zona cinzenta que uma experiência histórica como a Shoah nos ensinou a reconhecer, que uma disposição de escuta como a psicanálise nos ensinou a respeitar e que uma teoria literária como a autoficção nos ensinou a interpretar. O ethos exílico atual é assim marcado por um segredo, a ser respeitado a ponto de fundar uma ética, uma ética exílica fundada no distanciamento que o segredo implica, o que permitirá compreendê-lo à luz do pensamento levinasiano. Tal ética mexe com os princípios tradicionais de acolhimento e hospitalidade que ainda regem a aplicação do direito de asilo, porque supõem, de ambos os lados, uma fala plena e um sujeito soberano.

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