Abstract

Este ensaio procura elaborar uma relação entre dois intelectuais atuantes em um período fundante da historiografia brasileira durante as primeiras décadas do século XX: Euclides da Cunha e Gilberto Freyre. O eixo norteador do texto é o papel de Freyre como leitor de Euclides da Cunha, analisando a forma como a obra deste foi recebida por aquele. Defende-se a hipótese que a feitura do primeiro livro do autor pernambucano, Casa-grande & senzala (1933), foi fortemente marcada pelas características do livro maior de Euclides, Os sertões (1902).

Highlights

  • This essay aims to establish a relationship between two active intellectuals in an important period of the Brazilian historiography during the first decades of the XX century: Euclides da Cunha and Gilberto Freyre

  • E, de fato, ponderando depois calmamente o valor da obra, pareceu-me chegar à conclusão de que Os sertões são um livro admirável, que encontrará muito poucos, escritos no Brasil, que o emparelhem – único no seu gênero, se atender-se a que reúne a uma forma artística superior e original, uma elevação histórico-filosófica impressionante e um talento épico-dramático, um gênio trágico como muito dificilmente se nos deparará em outro psicologista nacional

  • Viu nele apenas as cintilações do estilo” (ROMERO, 1912, p.187)

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Summary

Os significados de Os sertões

Euclides escreveu como um solene erudito vitoriano, doublé de missionário social; Gilberto, como um humanista brincalhão, que terminou seus dias como um sábio algo impudico [...] José Guilherme Merquior (MERQUIOR, 1990, p.348)[1]. Mônica Velloso, por sua vez, estudando o contexto intelectual nas suas ramificações durante o Estado Novo, demonstrou como a dicotomia outrora estabelecida por Tristão de Athayde entre Machado e Euclides perdurou durante as duas décadas subsequentes, quando o campo literário já cedia espaço para o considerável desenvolvimento, desde os anos 30, das ciências sociais no país, e também quando o interior geográfico começou a assumir as definições do “Brasil profundo”, sendo a conquista da hinterland um verdadeiro projeto político para a busca da unidade da nação. Ela não é de forma alguma desprezível, e levá-la em consideração é algo importante na tentativa de descortinar novos horizontes de interpretação para esse momento fundador da historiografia brasileira; contexto em que os limites dos campos disciplinares, com o desenvolvimento universitário, passam a se tornar cada vez mais nítidos, levando, com isso, a um deslocamento do privilégio até então concedido à literatura como forma por excelência da representação da nacionalidade e da realidade nacional.

Freyre leitor de Euclides
Referências bibliográficas
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