O trabalho multiprofissional apresenta-se como um desafio nas instituições de saúde. Pressupõe uma dinâmica em bases coletivas sem, contudo, perder a singularidade de saberes e profissões. Requer uma perspectiva ampliada de atuação para além dos aspectos técnico-assistenciais e gerenciais, na lógica de inserção em um sistema de saúde que tem como um dos princípios filosóficos a integralidade da atenção. Por sua vez, a integralidade da atenção pressupõe a constituição de redes de serviços que viabilizem o cuidado integral em unidades de saúde com recursos de diferentes densidades tecnológicas, contemplando ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde e visando atender ao ser humano em suas dimensões biopsicossociais. As características peculiares relacionadas à integralidade e à gerência do cuidado constituem-se em importantes inquietações a serem respondidas pela enfermagem. Historicamente cuidar e gerenciar podem ser consideradas as principais dimensões do trabalho do enfermeiro, porém configuram-se em processos pouco articulados. Na atualidade, vivenciamos um paradigma emergente, que se refere ao gerenciamento focado no cuidado de enfermagem, em uma ótica que articule gerência e assistência, tendo como centralidade o usuário do serviço de saúde e o cuidado em uma abordagem que extrapole o tecnicismo em direção à integralidade da atenção. Tal situação requer dos enfermeiros conhecimentos, habilidades e atitudes para a compreensão do processo saúde-doença em uma dimensão ampliada, que favoreça o cuidado resolutivo. Faz-se necessária a mobilização de competências para além do âmbito clinico que possibilite o enfermeiro assumir o papel de gerenciar o cuidado. Essa atuação deve considerar a relevância da dimensão biológica sem, contudo, reduzir o usuário a esta, ou seja, considerar uma abordagem que privilegie a integralidade da atenção e incorpore ao cuidado as dimensões psico-emocional-social e espiritual. Considerando o atual contexto, o enfermeiro utiliza-se de dispositivos tecno-assistenciais-organizacionais tais como o acolhimento com classificação de risco e a avaliação do grau de dependência que, a partir de diferentes abordagens, proporcionam o conhecimento da demanda de cuidados, possibilitam mudanças no planejamento e execução da atenção à saúde, favorecem o acesso, a humanização, o aperfeiçoamento do trabalho em equipe, a responsabilização e o vínculo. A utilização desses dispositivos tecno-assistenciais-organizacionais implica em investimento individual e coletivo dos enfermeiros para assegurar uma prática diferenciada a partir de uma base sólida de conhecimentos que se converta em ações assistenciais e gerenciais. Também traz novas possibilidades para o trabalho do enfermeiro, na perspectiva de assumir papel de destaque na equipe de saúde, na participação dos processos decisórios e na alocação de recursos humanos, materiais e tecnológicos. Nesse sentido, entendemos que o desenvolvimento de pesquisas pode incrementar o conhecimento sobre gerenciamento do cuidado, para atender novas demandas da sociedade, com vistas a impactar as práticas de saúde e enfermagem e a consolidar o SUS, bem como sinalizar novos horizontes, particularmente nos aspectos de atenção básica e de alta complexidade, duas dimensões das redes de atenção à saúde responsáveis por um grande contingente populacional e que emprega expressivo número de enfermeiros.
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