A evocação dos regionais como referência exclusiva de instrumentação vinculada à tradição do choro é recorrente nas narrativas de músicos contemporâneos. Na literatura, porém, nota-se a presença de uma maior diversidade de instrumentos e formatações engajadas na performance do gênero, durante o período de sua concepção. No intuito de compreender o hiato entre ambas as perspectivas, aproximo o choro do conceito de tradição cunhado por Anthony Giddens. Atravessada pela ideia de permanência, a tradição também se sujeita a diversas disputas práticas e discursivas entre seus agentes por domínio de seus sistemas abstratos, podendo, assim, transformar-se. Partindo desta constatação, destaco a subordinação de tais mudanças, no caso do choro, a negociações ocorridas em seu espaço ritual: a roda. Argumento, por fim, que os regionais se firmaram – a partir de negociações rituais diversas – como parte de uma tradição inventada do choro, que contribui para padronizar e particularizar, no presente, a heterogeneidade de formações instrumentais dedicadas à performance do gênero na passagem do século XIX ao XX. Os dados a fundamentar tais percursos e conclusões foram extraídos da literatura, de processo de observação participante em uma roda de choro na cidade de Belo Horizonte e de entrevistas com músicos dedicados à performance do gênero.
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