Este artigo descreve as estruturas e funções da membrana eritrocitária e sua importância na medicina transfusional. A membrana eritrocitária é uma das membranas mais conhecidas em termos de estrutura, função e genética. Como qualquer membrana plasmática, tem como função mediar transportes e, ainda, fornece ao eritrócito resistência e maleabilidade. De acordo com a International Society of Blood Transfusion (ISBT), são mais de 500 antígenos expressos na membrana das hemácias e, destes, cerca de 270 estão envolvidos nos casos de reação transfusional e doença hemolítica do feto e do recém-nascido. Na classificação feita pela ISBT, destaca-se a série de alta freqüência representada por antígenos presentes em mais de 99% dos indivíduos de uma população. Estes antígenos são conhecidos também como antígenos públicos e a maioria, quando ausente, determina problemas graves do ponto de vista transfusional. Como exemplo dessa problemática, uma gestante com ausência do antígeno P já sofreu seis abortos de repetição por insuficiência placentária devido ao anticorpo formado pela ausência do antígeno. Proteínas importantes são descritas nesta revisão como: banda 3, glicoforinas, espectrina e outras. A banda 3 é a mais abundante proteína integral da membrana do eritrócito e sua principal função é mediar a troca de cloro e ânions de bicarbonato através da membrana plasmática. A segunda proteína integral mais abundante é a sialoglicoproteína glicoforina A (GPA). Com um alto conteúdo de ácido siálico, a GPA contribui com a rede de carga negativa na superfície da membrana do eritrócito, minimizando, assim, a interação célula-célula e prevenindo sua agregação. Glicoforina C (GPC) é o receptor para PfEBP-2 (baebl, EBA-140), o mais novo local de ligação identificado para o Plasmodium falciparum.O complexo terciário - espectrina, actina e 4.1R - define a rede de citoesqueleto da membrana do eritrócito e é ainda responsável pela estabilidade sob mecanismos de estresse. Essa revisão da membrana eritrocitária é importante para um melhor entendimento das reações transfusionais, onde a formação de anticorpos contra antígenos de alta freqüência dificulta a transfusão compatível. O estudo da diversidade antigênica, a caracterização bioquímica de diferentes proteínas trará uma contribuição para o estabelecimento da saúde, assim como para o diagnóstico, desenvolvimento de tecnologias, como a produção de anticorpos monoclonais e conduta terapêutica para muitas enfermidades.
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