A análise de Discurso de Michel Pêcheux tem seu momento inaugural com o livro Analyse automatique du discours (AAD-69). Desde seu início, a noção de sujeito se faz presente como organizadora dos processos epistemológicos. Mas não se trata de qualquer noção de sujeito. Convoca-se uma noção de sujeito contingente, interpelado pela ideologia e barrado pelo inconsciente. Este artigo se propõe a acompanhar o surgimento dessa noção e cartografar seus aggiornamentos em relação à teoria. De um lugar descritivo do sujeito do inconsciente, propomos que o barramento ideológico produz resistência pulsional que, em última instância, provoca e permite a desidentificação ideológica. O artigo se divide em três momentos. No primeiro, retomamos a constituição teórica da AD, revisitando brevemente suas fases e seus construtos para compreender como a Psicanálise vai aparecendo no deslocamento da teoria de Pêcheux. Em um segundo tempo, trazemos para a discussão o texto Só há causa daquilo que falha (PÊCHEUX, 1978), em que Pêcheux retifica posições anteriores e enfatiza o valor teórico, político e histórico da falha, evidenciando, com isso, o liame com a presença da Psicanálise em relação ao sujeito. Por fim, concluímos apontando para uma ampliação da análise que vá além das recorrências e que vise também à interpretação das políticas de resistência do sujeito, a partir do aporte da Psicanálise, para que se possa compreender o discurso na sua contradição constitutiva do mesmo e do diferente, em seu duplo plano, o da ideologia e o do inconsciente.