Fenômeno de comportamento ambivalente, pressuposição tem desafiado algumas gerações de linguistas em relação a dois problemas complementares: o problema da projeção de pressuposições e o problema da origem das pressuposições. Embora o problema descritivo da projeção tenha recebido maior atenção, não se pode lidar com ele sem assumir algum posicionamento quanto ao problema explanatório, relativo à origem das inferências consideradas pressuposicionais. O desacordo que se observa quanto à descrição da projeção de pressuposições contrasta, no entanto, com um relativo consenso, historicamente construído, sobre a natureza das pressuposições. Segundo esse consenso, pressuposição é fenômeno de natureza convencional, sujeito, apenas em sua projeção, a injunções de ordem conversacional. Mais recentemente, esse consenso tem sido abalado por uma nova onda de trabalhos, que, de diversos modos, passaram a defender a ideia de que pressuposição é fenômeno de natureza fundamentalmente conversacional. Entre essas propostas, uma que merece atenção pela plausibilidade é a que identifica pressuposição com implicatura de quantidade escalar. As duas formas de encarar a origem de pressuposições, no entanto, permitem realizar predições distintas quanto ao seu processamento. Interessados na comprovação de uma das duas hipóteses, estudos experimentais foram conduzidos recentemente com a finalidade de avaliar o modo como pressuposições e implicaturas escalares são processadas. Os resultados desses estudos têm sido importante elemento no debate sobre o problema explanatório da origem de pressuposições. Este artigo revisita alguns experimentos que avaliam o modo como ocorre o processamento de implicaturas escalares e pressuposições e procura avaliar a importância, no quadro mais geral desse debate, de trabalhos que investiguem o modo como sujeitos em fase de aquisição processam inferências pragmáticas. Mostra, nesse percurso, que as evidências obtidas podem ser vistas como elementos de apoio a certos modelos ou, alternativamente, como pistas para o aprimoramento das suposições dos modelos que, inicialmente, parecem problematizar.