O objetivo desse trabalho é apresentar os resultados de uma pesquisa exploratória relativa ao ensino-aprendizagem de literatura a partir do gênero conto em articulação com a produção do gênero discursivo não literário entrevista, utilizando-se tecnologias digitais de modo a promover multiletramentos e autoria. Esta pesquisa, no que se refere à leitura/interpretação de textos literários, fundamentar-se-á nos conceitos de Polifonia e Dialogismo de M. Bakhtin (2013) a fim de que as vozes do discurso ficcional – narrador e personagens – articulem-se com as vozes não-ficcionais agentes do discurso literário de modo a favorecer a construção do letramento literário como proposto por Cosson (2016). Nesse sentido, o estudo dos elementos da narrativa em uma perspectiva sócio-histórica permite que se construam sentidos que ultrapassam a estrutura superficial da história ficcional. Em relação às práticas de autoria, considera-se o desenvolvimento dos diferentes tipos de letramento como aspecto central. Para tanto, adotou-se a perspectiva de trabalho do The New London Group (1996) ao propor a pedagogia dos multiletramentos cujos princípios focalizam modos de representação mais amplos do que apenas a língua escrita. Entende-se que a partir de uma abordagem diferenciada e aprofundada do texto literário é possível ressignificar e ampliar os seus significados, criando – no sentido de produção textual de um gênero não literário – as vozes ficcionais e não-ficcionais implícitas, mas não inexistentes, no texto. Dessa maneira, assume-se como essencial a concepção de discurso como prática social de acordo com as proposições de Fairclough (2008), que considera os processos de interpretação e produção textuais como socialmente restringidos. Ao serem compreendidos a partir dos seus condicionamentos histórico-sociais, os textos literários possibilitam leituras diferenciadas dos sentidos propostos pelo texto enquanto objeto de estudo. Dessa maneira, a produção de um gênero discursivo que revele outras vozes – implícitas e presentes – no discurso ficcional mostraram-se promotoras de práticas de autoria não se limitando ao resumo ou a resenha crítica da obra literária, mas sim um verdadeiro diálogo, no sentido bakhtiniano do termo, entre autores-leitores-interlocutores