A presença de escritos referenciais de Aby Warburg é emblemática do crescente movimento de retorno a teóricos e historiadores da arte do início do século XX, pelo menos em dois diferentes âmbitos. Um deles se dedica a seus pressupostos teórico-metodológicos sob uma revisão epistemológica da história da arte, cuja especificidade nos coloca a pensar a possibilidade de acesso a uma região de saberes e não saberes sobre a diversidade cultural do Renascimento e de seu olhar sobre a Antiguidade, entendendo sua temporalidade como um fenômeno complexo. O outro âmbito é suscitado por questões oriundas da arte moderna e contemporânea, que impõem agenciar deslocamentos de sentido, conceitos operatórios e categorias de análise para considerar a produção visual (recente ou não) e problematizar constrangimentos classificatórios e modelos teóricos fundados por teorias que se pretendiam objetivas. A ordem epistemológica desse retorno, em ambos os âmbitos, parece questionar o próprio discurso historiográfico da arte em sua consideração da imagem e do tempo, pensados a partir de diálogos transdisciplinares abertos pela obra de Warburg (e de estudiosos warburguianos). Trata-se de considerar a abertura desse retorno face à consciência de uma inquietação, algo que poderíamos chamar de uma ausência fundamental: uma dúvida constituinte do próprio regime discursivo dessa disciplina quando ela assume a insistente perturbação que, de fundo, seria provocada pela região intervalar entre o objeto de investigação, a natureza de sua escolha e o próprio historiador da arte, que interdita narrativas totalizantes. O presente dossiê apresenta textos que refletem sobre a fertilidade e a potência política do pensamento warburguiano, no que concerne às lógicas de aproximação ou associação de imagens, de obras, de referências artísticas e culturais em curadorias de exposições, de coleções e acervos de arte já constituídos e em constituição, dos trânsitos e migrações de imagens de diferentes épocas e contextos em outras constelações, antes impensáveis, que doam às próprias imagens renovados sentidos em diferentes áreas.