O presente trabalho aborda a estreita e significativa associação existente entre a mulher e o céu na cosmologia dos Tobas do Oeste de Formosa (família linguística Guaicuru). Para tanto, é focada a relação estabelecida, num nível prático e simbólico, entre o universo feminino e o personagem celeste, representado pela lua. A lua é um ser masculino que no plano narrativo deixa a sua marca na constituição mitológica da mulher toba. A partir desse ponto, é realizada uma analise do conjunto de mecanismos sociais e aspectos da organização social ligados à concepção toba da feminidade. A análise da trama simbólica de relações significativas entre a feminidade e o plano celeste mostra, por sua vez, que a mulher é considerada como um ser perigoso, com marcadas características de liminaridade. Em decorrência disso, a práxis social toba constrói uma feminidade obediente às prescrições sociais, pois a insubordinação e a quebra das normas na vida cotidiana podem desencadear uma série de desajustes que vão do individual ao coletivo, podendo também gerar desordens cósmicos.
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