Este artigo resultou de uma pesquisa qualitativa sobre as publicações de periódicos em torno do concurso infantil de desenhos “Como vê você Paris Libertada?”, organizado em 1945 por Beatrix Reynal a partir do Rio de Janeiro. A iniciativa privada, lançada por meio de veículos dos Diários Associados, envolveu cerca de seis mil crianças e foi acolhida pelo Ministério da Educação. Compreendendo a memória individual e coletiva em inter-relação e transformando os periódicos em fontes históricas das práticas culturais que as constituem, é possível mapear traços do processo de comunicação de uma memória celebrativa da Resistência Francesa e da Libertação de Paris em formação naquele momento. Problematiza-se essa memória, também como um investimento social e um recurso de distinção no meio das elites, relacionado à persona Beatrix Reynal. Trata-se da configuração de um enquadramento memorial gaullista, ligado às políticas diplomáticas e à importância atribuída pelo público de artistas e intelectuais brasileiros ao legado cultural francês, apostando na reconversão do passado recente perante as crises geradas pela guerra.