Este artigo pretende pensar o que Rancière chama de “giro ético da estética e da política” (le tournant éthique), isto é, a eticização contemporânea desses campos. Em Malaise dans l’esthétique o filósofo francês pretende mostrar como a palavra “estética” suscita atualmente sempre um certo incômodo, certa animosidade, tomada como um discurso capcioso pelo qual uma certa filosofia teria desviado em benefício próprio os sentidos das obras de arte e dos julgamentos de gosto. Em oposição a isso é que se teriam lançado alguns autores que denunciam certa “confusão” estética e tentam “consertá-la”, como Bourdieu, Badiou e Lyotard. É esse conserto que tende a uma eticização da estética e, com ela, da política. Acusa-se a estética de ser culpada de abrigar o ‘não importa que’ dos objetos de uso e das imagens da vida profana; e, também, de se ter extraviado em promessas falaciosas de um absoluto filosófico e de uma revolução social. Num tempo da arte pós-utópica, portanto, a única salvação, o único Deus disposto a nos salvar, estaria a cargo de uma ética, de uma arte marcada pelas categorias do consenso, isto é, disposta a restaurar o sentido perdido de um mundo comum ou reparar as falhas do laço social. O conceito de comunidade é aqui central para se pensar como a comunidade política é transformada em uma comunidade ética. Se para alguns autores a relação entre essas duas comunidades é de continuidade, para Rancière elas revelam diferenças significativas, regidas pela oposição entre povo e população. Para a investigação que desenvolvo sobre o lugar da educação como questão filosófico-política o “giro ético da estética e da política” é um passo importante para se pensar nas formas contemporâneas de subsunção do espaço político e nas consequências desse processo para a educação.