RESUMO Objective Analisar experiências de mulheres trans e travestis com o uso de hormônios para mudança corporal sem prescrição médica. Métodos: Estudo de corte transversal, quantitativo e qualitativo, utilizando um recorte do TransOdara, que estimou prevalência de Infecções Sexualmente Transmissíveis em mulheres trans e travestis, recrutadas por meio de Respondent-Driven Sampling, entre dezembro de 2019 e julho de 2021, em São Paulo, Campo Grande, Manaus, Porto Alegre e Salvador. Principal desfecho: uso de hormônios sem prescrição médica e fatores associados. Foram realizados análise descritiva e modelos de regressão logísticos univariados mistos e entrevistas semiestruturadas. Resultados: Das 1.317 participantes recrutadas, 85,9% já haviam usado hormônios. O uso atual de hormônios foi referido por 40,7% (536) delas. Das que souberam informar o local onde os conseguiram, 72,6% (381/525) faziam uso sem prescrição médica. As variáveis associadas ao uso sem prescrição foram: exercer trabalho sexual em tempo integral (OR 4,59; IC95% 1,90–11,06) ou no passado (OR 1,92; IC95% 1,10–3,34); não ter retificado o nome (OR 3,59; IC95% 2,23–5,76); não estar estudando (OR 1,83; IC95% 1,07–3,13); ser mais jovem (OR 2,16; IC95% 1,31–3,56); ter sofrido discriminação em algum momento na vida por ser mulheres trans e travestis (OR 0,40 – IC95% 0,20–0,81). Conclusão: O uso de hormônios não prescritos é alto entre mulheres trans e travestis, principalmente entre as mais jovens, as que não estudavam, as que não retificaram o nome e as com histórico de trabalho sexual. Está relacionado à urgência para a transição de gênero, com uso exagerado e danos à saúde.
Read full abstract