Com base no tratamento pela corticotrofina e corticóides de 518 pacientes internados no período de 1952 e 1967, os autores fazem a avaliação crítica dos resultados dessa terapêutica em diversas afecções do sistema nervoso. São as seguintes as afecções estudadas: moléstias desmielinizantes, polirradiculoneurite ,coréia aguda, mielose funicular, hipsarritmia, miastenia grave, polimiosite, neurotuberculose e neurocisticercose. Os medicamentos empregados foram o ACTH ou corticotrofina pelas vias venosa ou intramuscular, e a cortisona e derivados pelas vias oral ou parenteral. O uso de derivados da cortisona, especialmente o acetato de metilprednisolona, pela via intratecal constituirá objeto de outro estudo. Os resultados do tratamento hormonal foram analisados sob os aspectos curativo e preventivo. Neste último aspecto a análise se restringiu à prevenção de seqüelas nos casos de neurotuberculose e neurocisticercose. A avaliação dos efeitos terapêuticos obedeceu a critério clínico e, quando necessário, ficou subordinada ao estudo evolutivo dos exames complementares. Foram referidos apenas os resultados imediatos, observados pela condição de alta dos pacientes. Desse estudo os autores concluem: 1. A corticotrofina e/ou corticóides são empregados com resultados favoráveis no tratamento de diversas moléstias do sistema nervoso, tanto como terapêutica curativa como preventiva. 2. Os resultados em geral são de avaliação difícil e estão na dependência da natureza e caráter evolutivo da afecção e da época em que o tratamento é instituído relativamente ao início da sintomatologia. 3. Em relação ao tratamento curativo, as afecções agudas de natureza imunalérgica ou os surtos das neuropatías de evolução cíclica e as suscetíveis de agravação progressiva com manifestações paroxísticas foram as que melhor responderam à terapêutica hormonal. Certas moléstias que costumam evoluir com fases de agravação e cuja natureza parece estar ligada a fatores imunológicos, também responderam de modo favorável ao emprego do ACTH e/ou corticóides. 4. Conseqüentemente, melhores efeitos foram obtidos na coréia aguda, polirradiculoneurite, complicações neurológicas das vacinações, da coqueluche, da parotidite epidêmica e de febres eruptivas, nas crises paroxísticas e disritmia cerebral da hipsarritmia e na miastenia grave. Em ordem decrescente quanto aos benefícios proporcionados pela terapêutica hormonal, estão a esclerose múltipla e outras desmielinizações primárias. O número pequeno de casos não permitiu conclusão quanto à polimiosite. É de notar que, em relação às desmielinizações primárias, os melhores resultados foram obtidos quando o tratamento era aplicado no combate aos primeiros surtos de agravação da moléstia tornando-se menos eficiente nos surtos ulteriores. A mielose funicular foi a neuropatía que menos se beneficiou com o emprego isolado dos glicocorticóides. 5. Na meningencefalite tuberculosa subaguda ou crônica os resultados em geral não foram bons, porém nos casos recentes a associação da medicação específica ao ACTH ou corticóides, foi benéfica, tanto como terapêutica curativa como na prevenção de aderências pia-aracnóideas. 6. Na neurocisticercose os resultados de modo geral foram favoráveis, justificando amplamente o emprego dos hormônios glicocorticóides como terapêutica preventiva no sentido de limitar a formação de aderências. Usados com critério e com as necessárias precauções, o ACTH e os corticóides acarretaram índice significativamente baixo de complicações que, no entanto, foram quase sempre muito graves. 8. Com essas restrições a terapêutica hormonal constitui arma preciosa no arsenal terapêutico da Neurologia. Mesmo nos casos menos favoráveis, freqüentemente esses hormônios representam o único recurso disponível e o pouco que se obtiver será suficiente para justificar o seu emprego. Em certos casos de evolução dramática o uso do ACTH e/ou corticóides torna-se quase imperativo.