Há poucos estudos sobre caranguejos do Pantanal, e estes geralmente enfocam a carcinofauna de rios e lagoas. O Pantanal é a maior planície inundável do mundo, localizado em uma bacia sedimentar na região central da América do Sul, com cerca de 138 km² de área. Há duas estações, de chuva e seca, com o período de inundação começando em janeiro e terminando em abril. Neste trabalho, estudamos a distribuição de caranguejos em habitats temporariamente inundados do Pantanal Mato-Grossense. A área de estudo está localizada entre os rios Cuiabá e São Lourenço, ambos afluentes do Rio Paraguai, localizado no centro-oeste brasileiro. Realizamos coletas diárias no período de cheia do pantanal (22/02 a 03/03 de 2008). Utilizamos 20 parcelas com 25 m² cada para a coleta de dados ambientais e dos animais, mediante cerco com rede de malha 3 mm e captura com rede de arrasto de mesma malha. Removemos a vegetação e a lavamos dentro da parcela para remover animais associados. Diferenciamos os habitats em função das fitofisionomias, da disponibilidade de abrigo para animais, da forma de cobertura vegetal submersa, e da distância do rio. Estudamos o efeito dessas variáveis sobre a abundância de caranguejos associados aos habitats, através de teste de Kruskall-Wallis e regressão linear. Obtivemos densidade média de 0,63 indivíduos/m², predominantemente jovens, e amostramos as três mais abundantes das seis de espécies de Trichodactylidae da região. Houve correlação positiva com formas de cobertura submersa, principalmente gramínea, e negativa com a distância do rio Cuiabá, mostrando que a migração ou dispersão para os alagados diminui com a distância do rio e se concentra em campos nativos ou antropizados. Provavelmente as gramíneas desempenham para os caranguejos, nos alagados, o mesmo papel que as macrófitas aquáticas desempenham em corpos d'água permanentes.
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