Após a conclusão do curso de medicina psiquiátrica em Lyon, em 1951 (Geismar, 1972, p.59), Fanon (1925-1961) foi acolhido no hospital Saint Alban, para um aprofundamento dos estudos psiquiátricos, tendo ali, trabalhado e pesquisado sob a supervisão do psiquiatra espanhol Francesc Tosquelles (1912-1994), onde praticou os fundamentos da psicoterapia institucional, desenvolvida por Tosquelles e seus colaboradores naquele hospital. Mais tarde, na Argélia, Fanon atuou no hospital de Blida-Joinvile (entre outubro de 1953 e 1956) e, posteriormente, na Tunísia, introduzindo reformas, à luz da psicoterapia institucional. A concepção de ser humano que cultivava e a compreensão de que a sociedade doente produz pessoas doentes, levaram-no a um profundo conflito, à medida em que foi tomando consciência da violência do colonialismo francês contra o povo argelino, conforme relatou na carta de demissão que enviou ao Ministro Residente, Robert Lacoste, em 1956 (FANON, 1980). Após o pedido de demissão, adentrou o movimento de libertação da Argélia. Escreveu livros e artigos combatendo o colonialismo e difundindo os ideais revolucionários. Van Renssalaer Potter (1914-1994), por longo tempo atuou como biólogo e bioquímico no MacArdle Laboratory for Cancer Research, na Universidade de Winsconsin, na cidade de Madison, onde doentes de câncer eram tratados. Na década de 1970, publicou um livro seminal, Bioética, ponte para o futuro. Anos depois, publicou estudos de Bioética Global. Mais tarde, articulou conceitos de Bioética Profunda. Preocupado com a sobrevivência humana neste planeta, atacado pela irresponsabilidade humana, Potter conclamou a humanidade à tomada de consciência e mudança de condutas. Comparando-se os dois autores, observa-se que os escritos de Fanon foram produzidos na década de 1950, sendo que seu último livro, Os Condenados da Terra, foi escrito em 1961. Potter, por sua vez, escreveu os primeiros estudos de bioética na década de 1970, cerca de uma década após o falecimento de Fanon. Respeitados os limites cronológicos, este estudo se pergunta: A dialética da medicina como política e da política como medicina, na práxis de Fanon, teria sintonias bioéticas? Para enfrentar este problema, o trabalho contextualiza a formação de Fanon, identificando os princípios da práxis médico-psiquiátrica dele. Em seguida, demonstra-se as contradições do colonialismo, identificando uma dialética da medicina como política e da política como medicina. Adiante, informa-se a contribuição de Van Rensselaer Potter, na proposição da bioética. Finalmente, argumenta-se a favor das sintonias bioéticas presentes nas passagens selecionadas. O procedimento metodológico é a pesquisa bibliográfica, analítico-dedutiva.
 Palavras-chave: Colonialismo. Consciência. Medicina. Política. Sintonias bioéticas.
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