A espetacularização da vida cotidiana tornou-se mais democrática com o acesso às tecnologias de imagem oferecidas pelo telefone celular. Nessa esteira, estão os vídeos produzidos por cidadãos que registram a ação policial em comunidades em processo de pacificação. À luz de uma abordagem da Análise da Conversa Aplicada (ANTAKI, 2011) e dos estudos sobre multimodalidade (GOODWIN, 2010), analisamos, para este trabalho, um vídeo, postado na internet, que registra a cena de condução de um suspeito à delegacia, logo após uma ação de abordagem. Considerando-se que os policiais estão cientes da gravação e conscientes de que a imagem de policial está sob constante suspeição (MUNIZ, 1998), pretende-se investigar como os policiais vão gerenciar a interação física e virtual para realizar um trabalho de limpeza moral (MACHADO DA SILVA, 2008) que possa reparar seu estigma. Como mostra a análise realizada, a mediação tecnológica favorece a disputa dos policiais pela direção/edição do espetáculo, através de mecanismos como inclusão de informações não captadas pelo cinegrafista e explicitação das normas que orientam suas ações, especialmente no que diz respeito ao uso da força. Através de um trabalho de limpeza moral, os policiais buscam (re) construir a imagem de profissionais que agem de acordo com os preceitos da ética policial-militar, como o exercício de suas funções com probidade e justiça.
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