Abstract

As notas que compõem a obra Da Certeza (Über Gewissheit) expressam nitidamente a preocupação de Ludwig Wittgenstein com os problemas clássicos da epistemologia, em especial o uso dos termos epistêmicos tradicionais e os erros costumeiros dos filósofos que negligenciam suas profundas estruturas gramaticais. Em diversas passagens é fácil observar a tentativa de esclarecer os erros de realistas, idealistas e céticos no que diz respeito às nossas alegações ordinárias de conhecimento em contextos céticos moderados. A questão do ceticismo sobre a justificação é um tema recorrente na epistemologia analítica contemporânea e, de certo modo, as soluções ofertadas a este problema ainda não são completamente adequadas. Existem muitas passagens de Da Certeza que possuem o potencial de lançar luz sobre questões fundamentais que encontram-se imbricadas neste debate, cuja discussão contemporânea tem sido fomentada pela instigante análise de Daniele Moyal-Sharrock (2005, 2007). O objetivo deste artigo é justamente tentar esboçar uma reposta wittgensteiniana ao problema do regresso epistêmico.

Highlights

  • The notes that compose On Certainty (Über Gewissheit) clearly express the concern of Ludwig Wittgenstein with the classic problems of epistemology, in particular the use of traditional epistemic terms and the usual mistakes of philosophers who neglect their deep grammatical structures

  • Uma vez que cadeias infinitas de justificação inferencial são impossíveis para seres humanos finitos, pois sequer poderíamos compreendê-las, a última alternativa (iii) fica imediatamente excluída

  • De acordo com a autora, boa parte da fortuna crítica corrobora essa posição, garantindo que há evidências para isso em todos os textos de Wittgenstein, particularmente no Da Certeza (OC 320-1); ou seja, o conteúdo de uma proposição é compreendido “como uma entidade abstrata à la Frege; como o 'pensamento' de Frege, o sentido de uma sentença” (MOYAL-SHARROCK, 2007, p. 34)

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Summary

Ceticismo: O Problema da Justificação Epistêmica

O ceticismo sobre o conhecimento pode ser considerado a partir de uma dupla perspectiva[1]: (1) o Ceticismo Epistêmico diz que não existe tal coisa como o conhecimento, uma vez que o mundo é considerado como incomensurável e indeterminável (contexto cético exigente), e (2) o Ceticismo sobre a Justificação diz que não existe crença verdadeira “adequadamente justificada” (contexto cético moderado). A estratégia habitual dos céticos consiste em tentar mostrar que as condições impostas às teorias da justificação (em especial o problema do Regresso Epistêmico) não são ou não podem ser satisfeitas. Temos razões para crer que a obra Da Certeza tem o potencial de lançar luz sobre uma série de questões pertinentes ao Trilema de Agripa na epistemologia contemporânea (sobretudo no que se refere ao problema do Regresso Epistêmico), pois além de fomentar a ideia de que conhecimento e certeza pertencem a categorias distintas (satisfazendo a condição (2)), Wittgenstein defende que “certezas” são os próprios fundamentos de todo o nosso sistema conceitual (satisfazendo as condições (1) e (3)) e que “certezas” não são proposições (satisfazendo a condição (4)). Seguindo os insights de Daniele Moyal-Sharrock sobre a obra Da Certeza, vamos esboçar agora uma possível solução wittgensteiniana de cunho fundacionista ao problema do Regresso Epistêmico

Wittgenstein
Certezas Objetivas como Crenças Básicas que ocorrem em ação
Crenças básicas como fundação e como solução ao problema do regresso
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