Abstract

Neste artigo, desenvolve-se uma alegoria terapêutica em torno do problema da educação (matemática) escolar, lidando com ele como uma pandemia. O vírus mutante que a provoca causa vários sintomas vistos como crenças-imagens cristalizadas que se manifestam persistentemente desde o início dos processos modernos de escolarização: a febre disciplinar, que desfigurou e transformou práticas culturais em conteúdos verbais fixos; a febre epistêmico-mentalista, que transformou os jogos de linguagem entretecidos em formas praxiológicas de vida em saberes em si, independentes das linguagens e das gramáticas ético-políticas que as orientam, o que levou a uma distinção doentia entre saber-em-si e saber-fazer com os signos de uma linguagem; a ilusão de atemporalidade e o vício determinista, que impediram de se ver as práticas de se lidar com fenômenos considerados aleatórios como práticas matemáticas, e ambas como práticas que se constituem entretecidas em diferentes formas de vida, o que impediu a educação (matemática) escolar de problematizar diretamente – isto é, sem a mediação de óculos disciplinares – as práticas culturais que se realizam em diferentes formas de vida. Possíveis modos de se lidar com essa pandemia são pensados em um quadro pós-pandêmico imaginário em que a escola poderia se transformar em uma pancomunidade virtual voltada à problematização terapêutica de diferentes formas de vida e das práticas culturais que nelas se realizam, visando ao propósito de se formar guardiões de formas democráticas, solidárias, igualitárias e não-racistas de organização das vidas em diferentes formas de vida. Nessa pan-escola que (não) virá, a educação matemática desconstruída passa a ser vista como um conjunto de jogos de linguagem orientados por propósitos normativos, cujos efeitos e afetos nem sempre desejáveis e previsivelmente controláveis sobre as vidas e as formas de vida se abrem igualmente à problematização bioético-política.

Highlights

  • In this article, we developed a therapeutic allegory about the problem of school (mathematics) education, dealing with it as a pandemic.The mutant virus that transmits it causes several symptoms, crystallized beliefimages, that persistently manifest themselves, since the beginning of modern schooling processes: the disciplinary fever, which disfigured and transformed cultural practices into fixed verbal curriculum topics; the epistemic-mentalist fever, which transformed into knowledge itself - independent of the languages and the ethical-political grammars that guide them - the language games that intertwine with praxiological forms of life, which led to an unhealthy distinction between knowing-in-itself and know-how with the signs of a language; the illusion of timelessness and deterministic addiction, which prevented seeing the practices of dealing with

  • Acionar o Código de Endereçamento Postal (CEP) de uma correspondência com o propósito de fazê-la chegar ao seu destinatário é um ato que pode ser visto como uma prática cultural de deslocamento espaçotemporal de um espaço-tempo A a um espaço-tempo B que se pratica sob a orientação da gramática de um jogo de linguagem - no caso, a gramática ou conjunto de regras que orientou a produção do jogo de signos do CEP - que se joga entretecido com a gramática de uma forma de vida, no caso, a que orienta a organização da vida no campo praxiológico vital dos correios, desde que: a) a palavra espaço que compõe o substativo composto espaçotempo seja significada como a porção geopraxiológica requerida para a realização dessa prática; b) a palavra tempo que compõe o substativo composto espaço-tempo seja significada como a duração da realização dessa prática do modo como ela é diretamente percebida, sentida ou vivenciada pelas pessoas que a realizam, independentemente do fato da duração da realização de tal prática poder ou não ser medida e registrada por artefatos tecnológicos utilizados como padrões de medição de duração de um evento

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Summary

Introduction

We developed a therapeutic allegory about the problem of school (mathematics) education, dealing with it as a pandemic.The mutant virus that transmits it causes several symptoms, crystallized beliefimages, that persistently manifest themselves, since the beginning of modern schooling processes: the disciplinary fever, which disfigured and transformed cultural practices into fixed verbal curriculum topics; the epistemic-mentalist fever, which transformed into knowledge itself - independent of the languages and the ethical-political grammars that guide them - the language games that intertwine with praxiological forms of life, which led to an unhealthy distinction between knowing-in-itself and know-how with the signs of a language; the illusion of timelessness and deterministic addiction, which prevented seeing the practices of dealing with.

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