Abstract

É corrente hoje em dia a noção de que a tradução seria “naturalmente” datada e, em razão disso, teria uma espécie de prazo de validade. Nesse sentido, enquanto as obras originais se perpetuariam numa forma de vitalidade perene, manifestada no que Walter Benjamin (2011) chamou de sua pervivência (Fortleben), em geral as traduções dessas obras evidenciariam naturalmente a fragilidade de sua condição provisória e efêmera: nessa perspectiva, diremos das traduções que elas simplesmente envelhecem. Mas dizer que as traduções envelhecem não seria já assumir que elas também se inscrevem em seu tempo e, portanto, que elas constituem, em alguma medida, uma forma singular de vida? Em outras palavras, seu envelhecimento não daria testemunho também de uma vida singular como obra? Partindo-se aqui do pressuposto de que, para além de representar uma forma de vida para a obra original, o texto traduzido também constitui, ele mesmo, uma forma singular de vida (CARDOZO, 2017), este trabalho se propõe a discutir algumas dessas questões, com o objetivo de repensar os sentidos da ideia de envelhecimento da tradução.

Highlights

  • It is not uncommon to assume nowadays that translations are always dated and, they have a kind of shelf life

  • Assuming already that translations too are inscribed in time, and that they constitute in themselves a unique and singular form of life? In other words, would not their aging be a sign of the singularity of their form of life, of a form of life like works in themselves? Based on the assumption that, beyond representing a form of life for original works, translations constitute in themselves a singular form of life (CARDOZO, 2017), this paper aims at discussing some of these issues, in order to rethink the possible meanings of the idea of aging of translations

  • Mas a não ser em casos muito particulares, em que o próprio projeto de tradução já se funda numa ideia forte de tensionamento de alguma dimensão do que lhe é então contemporâneo, de resto, grande parte das traduções serão lidas e percebidas, por seus leitores, num certo regime de indistinção – como se o texto traduzido nos falasse como um conterrâneo, sem sotaque

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Mauricio Mendonça Cardozo Universidade Federal do Paraná

RESUMO: É corrente hoje em dia a noção de que a tradução seria “naturalmente” datada e, em razão disso, teria uma espécie de prazo de validade. Mas dizer que as traduções envelhecem não seria já assumir que elas também se inscrevem em seu tempo e, portanto, que elas constituem, em alguma medida, uma forma singular de vida? Seu envelhecimento não daria testemunho também de uma vida singular como obra? Partindo-se aqui do pressuposto de que, para além de representar uma forma de vida para a obra original, o texto traduzido também constitui, ele mesmo, uma forma singular de vida (CARDOZO, 2017), este trabalho se propõe a discutir algumas dessas questões, com o objetivo de repensar os sentidos da ideia de envelhecimento da tradução. PALAVRAS-CHAVE: Tradução e vida; Tradução e envelhecimento; Tradução literária; Vida da obra literária

Mauricio Mendonça Cardozo
ENVELHECIMENTO E SINGULARIDADE DA TRADUÇÃO
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